Resumo (PT):
Os países do Sul Global têm-se assumido como paradigmáticos, quer do ponto
de vista político, económico, social, cultural e também artístico (Guerra, 2021). Com
efeito, o punk e as culturas do-it-yourself (DIY) têm vindo a afirmarem-se como uma
pletora de múltiplas imaginações juvenis culturais, políticas e económicas. Então, num
mundo em que as ameaças aos futuros dos jovens têm aumentado significativa e
paulatinamente – acentuado neste contexto pós-pandémico -, as cenas musicais
underground assumem-se como um veículo de mudança, de transformação e de
metamorfose social e artística. Na verdade, o nosso objetivo passa pelo
enquadramento das cenas musicais underground e das culturas do-it-yourself num
espectro alargado de contextos vivenciais e de ação contemporâneos,
nomeadamente ao nível das práticas de artivismo. Adotando uma metodologia
qualitativa, com um pendor etnográfico multisituado, pretendemos demonstrar de que
forma a imaginação artística juvenil contemporânea se materializa em modos de
resistência, de ação e de reivindicação (Guerra, 2020; Weij & Berkers, 2017) por um
lugar no mundo e, mais concretamente, no contexto de um Sul Global opressor e
desigualitário. Devemos ainda referir que estes processos de imaginação artística
serão analisados com um enfoque nas comunidades que se têm movimentado em
torno do kuduro, da Batida, da Quinta do Mocho e da Príncipe Discos em Lisboa. O
kuduro pode ser uma prática social utópica em diversas dimensões, que implica uma
ressignificação dos espaços sociais e grupos sociais desvalorizados, uma
ressignificação através da dança e da música. Aqui, a subalternidade não é uma
classe social, como defendia Gramsci, mas um locus. Para Muzombo (2020), tendo
ou não letra musical, é um género musical e de dança originários dos musseques
angolanos, uma manifestação cultural de grupos subalternos angolanos; o mesmo
pode ser dito da sua componente portuguesa, oriunda dos bairros sociais e periféricos
de Lisboa, compostos essencialmente por imigrantes ou afrodescendentes. Conforme
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ganham voz com o kuduro, estes subalternos começam a afastar-se da sua condição
de subalternidade; conforme se conta a história do kuduro, como o faz Epalanga
(2017) no seu romance musical, liberta-se também esse género musical da sua
subalternidade.
Referências
EPALANGA, Kalaf. Os brancos também sabem dançar: um romance musical.
Alfragide: Caminho, 2017.
GUERRA, Paula. The song is still a ‘weapon’: The Portuguese identity in times of crisis.
In: Young, 28 (1), 14-31, 2020.
GUERRA, Paula. So close yet so far: DIY cultures in Portugal and Brazil. In: Cultural
Trends, 30 (2), 122-138, 2021.
MUZOMBO, Wakala Isaac Manuel. O kuduro. Concretizações literárias à margem.
Tese de doutoramento em Literatura. Évora: Universidade de Évora, 2020.
WEIJ, Frank; BERKERS, Pauwke. The politics of musical activism: Western YouTube
reception of Pussy Riot’s punk performances. In: Convergence: The International
Journal of Research into New Media Technologies, 25 (2), 287-306, 2017.
Abstract (EN):
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
No. of pages:
2