Resumo: |
As últimas décadas foram caracterizadas por uma grande expansão do acesso ao ensino superior (ES). Um dos desenvolvimentos mais importantes associados à massificação do ES foi uma tendência para desregular o sistema, alinhando-o pela interacção entre as forças de mercado. Todavia, esta tendência suscita preocupações devido aos riscos de estratificação e de desigualdades no ES.
Há várias dimensões através das quais o ES pode reproduzir ou amplificar as desigualdades. Uma dessas fontes é através de estratificação institucional. Em muitos sistemas de ES a questão não é apenas o acesso à formação superior, mas também o tipo e a área de formação, a região ou a instituição. Estes aspectos são particularmente relevantes, dado que os benefícios em termos de emprego e rendimento podem ser muito diferenciados consoante a formação. Uma segunda dimensão importante na desigualdade prende-se com a forma como o sistema de ES amplifica desigualdades socioeconómicas. Devido à forte concorrência no acesso a certas formações, as famílias procuram mobilizar recursos e adoptam estratégias que beneficiem os seus filhos. Além isso, tem havido algum debate acerca das competências valorizadas través dos sistemas de acesso e em que medida estas são ajustadas aos percurso de formação no ES. Uma terceira dimensão na desigualdade tem a ver com as oportunidades de acordo com o género. Ainda que a participação das mulheres no ES tenha aumentado, persistem diferenças, nomeadamente nas áreas das Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemáticas (CTEM). Ainda que as mulheres sejam mais qualificadas, nem sempre isso se reflecte igualmente no acesso a empregos mais qualificados e mais bem remunerados. Uma quarta e última dimensão a ter em conta tem a ver com a crescente desigualdade no número de anos de formação superior, nomeadamente as diferenças entre aqueles que têm apenas uma formação inicial e os que prosseguem para estudos pós-graduados, associados a claras vantagens económicas.
Neste projec  |
Resumo As últimas décadas foram caracterizadas por uma grande expansão do acesso ao ensino superior (ES). Um dos desenvolvimentos mais importantes associados à massificação do ES foi uma tendência para desregular o sistema, alinhando-o pela interacção entre as forças de mercado. Todavia, esta tendência suscita preocupações devido aos riscos de estratificação e de desigualdades no ES.
Há várias dimensões através das quais o ES pode reproduzir ou amplificar as desigualdades. Uma dessas fontes é através de estratificação institucional. Em muitos sistemas de ES a questão não é apenas o acesso à formação superior, mas também o tipo e a área de formação, a região ou a instituição. Estes aspectos são particularmente relevantes, dado que os benefícios em termos de emprego e rendimento podem ser muito diferenciados consoante a formação. Uma segunda dimensão importante na desigualdade prende-se com a forma como o sistema de ES amplifica desigualdades socioeconómicas. Devido à forte concorrência no acesso a certas formações, as famílias procuram mobilizar recursos e adoptam estratégias que beneficiem os seus filhos. Além isso, tem havido algum debate acerca das competências valorizadas través dos sistemas de acesso e em que medida estas são ajustadas aos percurso de formação no ES. Uma terceira dimensão na desigualdade tem a ver com as oportunidades de acordo com o género. Ainda que a participação das mulheres no ES tenha aumentado, persistem diferenças, nomeadamente nas áreas das Ciências, Tecnologia, Engenharias e Matemáticas (CTEM). Ainda que as mulheres sejam mais qualificadas, nem sempre isso se reflecte igualmente no acesso a empregos mais qualificados e mais bem remunerados. Uma quarta e última dimensão a ter em conta tem a ver com a crescente desigualdade no número de anos de formação superior, nomeadamente as diferenças entre aqueles que têm apenas uma formação inicial e os que prosseguem para estudos pós-graduados, associados a claras vantagens económicas.
Neste projecto procuramos estudar diferentes dimensões de desigualdade no ES de massas, centrando-nos no caso português. Um dos aspectos cruciais constitui em que medida o sistema de acesso tende a reproduzir e amplificar as desigualdades. Assim procuraremos analisar as seguintes questões:
i - Qual o grau de encontro entre as preferências dos estudantes e a capacidade formativa existente no sistema e como evoluiu esta relação ao longo do tempo. Procuraremos analisar esta questão por sub-sector, instituição e área de formação, aferindo potenciais desequilíbrios nestas dimensões.
ii - Qual o grau de articulação entre o ensino secundário e o ensino superior, nomeadamente quanto aos aspectos valorizados na formação secundária e na superior.
A segunda dimensão de desigualdade que iremos analisar prende-se com as questões de género, nas quais daremos particular atenção ao acesso às formações e ocupações mais
bem remuneradas e socialmente prestigiadas nas áreas de CTEM, nomeadamente:
iii - Quais as características que tornam as instituições de ensino superior ambientes motivadores para os estudantes, em particular do género feminino, tendo em vista a conclusão
atempada de formações nessas áreas?
iv - Como evolui o reconhecimento no mercado de trabalho dessas formações, especialmente à medida que aumenta a proporção de mulheres nessas áreas?
Uma terceira dimensão em que iremos analisar os mecanismos de desigualdade no ES Português prende-se com a crescente desigualdade entre estudantes que completam formação de primeiro ciclo e aqueles que completam segundos ciclos. Estas diferenças foram impulsionadas pelo chamado processo de Bolonha, o qual expandiu significativamente o acesso a formação de segundo ciclo em Portugal. Deste modo, procuraremos analisar:
v - Qual o perfil dos estudantes que prossegue estudos de segundo ciclo?
vi - Quais os percursos desses estudantes? Em que medida existe uma mobilidade entre ciclos para outras áreas de formação? Em que medida persistem nas mesmas instituições e regiões?
Para analisar estas questões usaremos dados longitudinais bastante ricos sobre o ES e o mercado de trabalho dos diplomados. Os dados utilizados permitirão seguir o percurso desses indivíduos desde o ensino secundário, através do seu percurso no ensino superior e as suas subsequentes trajectórias como diplomados, seja na prossecução de estudos de segundo ciclo, seja no mercado de trabalho. |