Resumo (PT):
O estudo da personalidade no curso médico prende-se a razões de ordem epistemológica e curricular; seja por exemplo na medida em que a praxis passa necessariamente pela comunicação a nível da relação terapêutica. De facto, jamais se poderá instruir sobre as técnicas comunicacionais envolvidas nesta relação, no desconhecimento de noções básicas sobre o suporte de tal comunicação. E tanto mais assim quanto também só por esta via se poderá fornecer uma perspectiva do ser humano como um todo, único alvo de uma actuação clínica que se pretenda correcta e digna dos seus antecedentes históricos e culturais. De facto é aqui que repousa, em última análise, o efeito modelador do modo como o paciente se relaciona com a sua doença, da sua forma de expressar as suas queixas sintomáticas — entre enaltecer e minimizar —, da sua relação com o terapeuta — aderindo ou desvalorizando as prescrições etc.
Ou seja, é à Psicologia Médica, enquanto veículo desta área do conhecimento no curso médico, que é acometido o propósito de alertar o futuro clínico para a problemática da relação; e muito particularmente a nível da díade constituída pelo médico com o seu doente. Para o efeito reportemo-nos a um autor clássico, por assim dizer, na apresentação do modelo biopsicossocial; referimo-nos a Engel (1980) naturalmente, e à hierarquia dos sistemas naturais (1977), a qual nos permite fundamentar distintamente o que alguém enunciou dizendo que ‘a Medicina é a ciência da probabilidade e a arte do possível’. De facto, do modelo biopsicossocial ressalta desde logo a importância, não só da técnica da entrevista, mas também e sobretudo do tipo da comunicação estabelecida e que designamos por autenticidade da relação médico-doente; a qual desde logo reputamos como conditio sine qua non da tão propalada humanização da prática médica. A um outro nível podemos também referir a indiscutível importância das trocas de informação no seio do sistema pessoa, contexto que corporiza o modelo dito da medicina psicossomática. Com efeito, a relação mente-corpo é biunívoca, e a importância relativa só é determinável caso a caso e a cada momento: tal como a pessoa doente que perturba a família tem a sua contraparte no funcionamento familiar capaz de conduzir a pessoa à doença, também a pessoa em situação, e mercê de determinadas características da sua personalidade, pode adoecer no plano orgânico; do mesmo modo que as suas idiossincrasias condicionam o sofrimento que possa sentir por virtude de uma lesão com ponto de partida biológico.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
No. of pages:
43
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