Os países estão preocupados com o aumento da despesa que poderá advir do envelhecimento da população. Mas, longe de darem apenas despesa, as pessoas idosas podem gerar ganhos económicos consideráveis em atividades que estão “fora do mercado” e que habitualmente não são medidas em “preços” ou não são remuneradas.
Num trabalho publicado na revista científica Social Science & Medicine, e no âmbito do trabalho desenvolvido através do European Observatory on Health Systems and Policies, João Vasco Santos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), propõe um novo método que permite estimar o valor monetário de envelhecer com saúde.
De acordo com a sua análise, que utilizou o Reino Unido como caso de estudo, a diferença entre estar de “boa saúde” ou de “má saúde” pode representar cerca de 19% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre os 65 e os 74 anos e 27% do PIB per capita na população entre os 75 e 84 anos.
Este estudo indica que as pessoas que envelhecem de forma saudável representam um ganho financeiro que pode ser traduzido em euros ou em qualquer outra moeda. Para isso, há que contabilizar o tempo que estas pessoas passam em atividades como arrumar a casa, cozinhar, tratar das compras, levar as crianças à escola, prestar cuidados a um familiar ou fazer voluntariado, por exemplo.
Como sublinha João Vasco Santos, estas atividades, embora essenciais para a sociedade, “permanecem invisíveis nas avaliações económicas convencionais”, não sendo compensadas financeiramente, apesar de apresentarem valor económico”.
“Envelhecer com saúde pode gerar um valor económico que não é observável se utilizarmos medidas tradicionais. O nosso método quantifica o valor monetário da saúde nos mais velhos e pode ser utilizado como argumento para investir no envelhecimento saudável”, afirma.
Historicamente, o crescimento económico tem sido atribuído à população em idade ativa, esquecendo sistematicamente os mais velhos, que são encarados, erradamente, como um fardo e prejudicando a aposta no envelhecimento saudável das populações. “Pelo contrário, sabemos que investir na saúde destas pessoas pode ser uma decisão política e económica estratégica. No entanto, o investimento no envelhecimento saudável deve ser visto sob outro prisma, tentando manter uma boa saúde em vez de apenas recuperar da doença”, considera o professor da FMUP.
Além de professor e investigador, João Vasco Santos é investigador do CINTESIS@RISE, médico de saúde pública na ULS Santo António, e Presidente da EUPHA Public Health Economics. Assina também o estudo Jonathan Cylus, do responsável do hub de Londres do European Observatory on Health Systems and Policies e economista da saúde do Barcelona Office for Health Systems Financing da Organização Mundial da Saúde.