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Redes sociais estão associadas a ferimentos autoinfligidos em crianças e adolescentes

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Investigadores da FMUP confirmam relação, mas «efeito de contágio» é ainda uma «questão em aberto»

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A exposição de crianças e adolescentes às redes sociais está significativamente associada ao aumento do risco de comportamentos autolesivos (automutilação), com gravidade ligeira a moderada e sem intenção suicida.

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) examinaram dezenas de estudos realizados em diferentes regiões do mundo, nomeadamente nos EUA, Reino Unido e China, e concluíram que essa ligação é clara, embora não se possa falar numa relação de causa-efeito.  

De acordo com os autores, tem-se assistido a um aumento dos casos de crianças e adolescentes que infligem danos a si próprios de forma intencional, através, por exemplo, de cortes, arranhões ou pancadas, habitualmente em zonas do corpo acessíveis e fáceis de esconder, como pulsos, braços, barriga e pernas.

Considerados como um problema de saúde pública na adolescência, estes comportamentos autolesivos são “um mecanismo para aliviar emoções negativas e difíceis de lidar (como raiva ou ansiedade), expressar angústia, autopunir-se ou, mais raramente, punir outras pessoas”, surgindo cada vez mais cedo.

Paralelamente, tem crescido o uso das redes sociais, como o TikTok e o Instagram, o que alterou o modo como os jovens se relacionam entre si e com o mundo que os rodeia, a partir de idades cada vez mais precoces.

Publicado no Journal of Affective Disorders Reports, este trabalho concluiu que, em geral, existe uma associação entre a exposição às redes sociais e comportamentos autolesivos em crianças e jovens entre os 9 e os 24 anos de idade, quer num contexto de internamento psiquiátrico, quer na comunidade.

Este resultado aponta para um “efeito de contágio social” “e de “imitação” das redes sociais no comportamento dos mais novos, com crianças e jovens a assumirem que seguiam plataformas online com “posts” de automutilações antes de também o fazerem. No entanto, essa causalidade não pode ser, para já, generalizada.

“A possibilidade de um efeito de contágio permanece uma questão em aberto, assim como a causalidade da associação entre redes sociais e comportamentos autolesivos”, ressalvam.

No futuro, os autores sugerem que são necessários estudos que analisem as experiências e as perspetivas das crianças e dos jovens ao longo do tempo, de modo a perceber, por exemplo, se a automutilação ocorre antes ou depois de assistirem ou de participarem em conteúdos do género nas redes sociais.

Além disso, entendem que é preciso complementar o autorrelato das crianças e jovens com recurso à tecnologia disponível, de modo a rastrear o tempo objetivamente gasto por estes nas redes sociais e estudar a importância do número de horas de exposição e o papel do género.

Além de Luís Guilherme Spínola e de Irene Carvalho, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), este estudo contou com a participação de Cláudia Calaboiça, do Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP).

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