Carla Luís, estudante de doutoramento da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi distinguida com uma Bolsa de Investigação em Oncologia atribuída pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC-NRN).
Com o valor de 12.600 euros, esta bolsa anual vai apoiar, em 2024, o projeto da doutoranda da FMUP que incide na relação entre cancro da mama e obesidade, com foco nas alterações do metabolismo energético central e, mais especificamente, na glicólise e na gliconeogénese.
“Esta bolsa é essencial para continuar o meu trabalho. Estava mesmo com muitas esperanças. Quando soube, fiquei muito contente, até porque foi um concurso extremamente competitivo. Queria mesmo continuar a investigar. Desde que me conheço pessoa, foi o que sempre quis fazer. E gosto muito daquilo que faço”, reage.
O projeto vencedor dará continuidade ao trabalho desenvolvido por Carla Luís no âmbito do seu doutoramento em “Metabolismo – Clínica e Experimentação”, na FMUP.
“Vamos avaliar a metabolómica a partir de amostras de sangue de três grupos: doentes com cancro de mama e obesidade, doentes com cancro da mama e peso normal e doentes com obesidade mas sem cancro da mama, num total de 60 participantes. O objetivo é identificar possíveis metabolitos (aminoácidos, açúcares, gorduras) presentes de forma sistémica”, explica.
Além de analisar os metabolitos no sangue, a doutoranda propõe-se avançar com a análise metabolómica em amostras de tecido tumoral de mama de mulheres submetidas a cirurgia no Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto). Finalmente, serão comparados os resultados das análises no sangue e em tecido das doentes.
“Penso que vamos ter resultados que poderão ser importantes, a nível da medicina personalizada. Ainda não existem guidelines para doentes com cancro da mama obesas. É um fator de risco, mas não é tido em conta na terapêutica. Está na altura de começarmos a ver a obesidade como um modulador do cancro da mama”, diz.
Durante a investigação desenvolvida no seu doutoramento na FMUP, Carla Luís concluiu que a obesidade tem influência no metabolismo dos carboidratos em mulheres com cancro da mama, registando diferenças na expressão de determinadas enzimas quer em cultura celular, quer em tecidos provenientes de biopsias.
“Conseguimos identificar três enzimas associadas à gliconeogénese que poderão ser potenciais alvos terapêuticos ou biomarcadores. Estas três enzimas revelaram-se significativamente alteradas na obesidade e correlacionadas com patologias características da síndrome metabólica (a dislipidemia, a hipertensão e a diabetes)”, indica.
Além das análises em cultura celular e em tecidos de biopsias de doentes com tumor de mama, Carla Luís realizou também uma análise epidemiológica que indica uma associação entre a obesidade e um pior prognóstico de cancro da mama.
“As mulheres obesas têm maior probabilidade de possuírem tumores maiores, pouco diferenciados e com expressão de recetor da progesterona”, sinaliza.
Entretanto, serão realizados estudos paralelos sobre a expressão de enzimas no cancro da mama, com recurso a inteligência artificial.
Além de Carla Luís, participarão nestes trabalhos Raquel Soares, Rúben Fernandes e profissionais da Clínica de Mama do IPO do Porto, nomeadamente Deolinda Pereira, Ana Ferreira, Rute Fernandes e Rafaela Rodrigues.
Carla Luís é licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), tendo feito o mestrado em Medicina e Oncologia Molecular na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Está prestes a concluir o programa doutoral em “Metabolismo – Clínica e Experimentação”, para o qual recebeu uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).