BioFiligranas – Joias Medicamente Prescritas é o título da exposição da autoria de Olga Noronha, com curadoria de Bernardo Pinto Almeida, que a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) irá inaugurar no dia 30 de abril (NOVA DATA!!!), pelas 18h30, no átrio do CIM – Centro de Investigação Médica.
Realizada no âmbito das comemorações do Bicentenário da FMUP, esta exposição constitui a primeira parte – Corpo Interno – do projeto expositivo Metamorfoses do Corpo Humano. A entrada é livre, solicitando-se inscrição para a presença na sessão de inauguração.
"Na sequência de muitas outras iniciativas envolvendo a música, a literatura, as artes plásticas, a ciência ou a política, a futura exposição de Olga Noronha insere-se na vontade da direção da FMUP em continuar a desenvolver a rica tradição cultural desta importante instituição do norte do país, projetando-a igualmente na cultura da Cidade e da Universidade do Porto", explica o diretor da FMUP, Altamiro da Costa Pereira.
De facto, sublinha , "se a história e o futuro se constroem sempre no presente, darmos atenção às propostas criativas dos nossos artistas — sejam estes contemporâneos e inovadores, como é o caso de Olga Noronha, ou ancestrais e anónimos como os que experimentaremos no final deste ano em que comemoramos o Bicentenário da criação da Real Escola de Cirurgia do Porto — é sempre uma forma de tornarmos mais relevante a missão da FMUP, continuando assim a inspirar as atuais e as futuras gerações dos estudantes que nos procuram e dos professores, técnicos e investigadores que os acompanham na sua jornada em busca de conhecimento e maturidade".
De acordo com Bernardo Pinto Almeida, os 200 anos da Faculdade de Medicina são “uma data muito importante. Esta exposição procurará enaltecer a função social cada vez mais importante que a medicina desempenha nas sociedades contemporâneas” e, por outro lado, “celebrar a relação entre a medicina e a arte, ligadas por formas de pensar como o corpo funciona”.
O curador, reconhecido professor catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e autor de várias obras de ensaio e de poesia, recorda que a “relação profunda entre arte e ciência sempre existiu”, dando como exemplos a representação do corpo por parte de Leonardo da Vinci e “A Primavera”, de Botticelli.
Em BioFiligranas – Joias Medicamente Prescritas (fotos de Joel Ribeiro), a artista e designer Olga Noronha, nascida no Porto, em 1990, cruza a arte da filigrana com as possibilidades atuais da ciência, em particular da medicina. A artista parte de placas de fixação óssea em material biocompatível, utilizadas em procedimentos cirúrgicos para tratar e curar o corpo humano interno.
O seu trabalho consiste na transformação dessas placas de osteossíntese, “com base em geometrias” e “motivos inspirados na filigrana tradicional portuguesa”, customizando-as e personalizando-as enquanto “objetos íntimos”.
A proposta é a “reconfiguração” dos dispositivos pré-cirurgicamente, de modo que, “após a consolidação das fraturas”, estes objetos possam ser extraídos do corpo interno e utilizados como “joias de carácter pessoal e emotivo”, como brincos, pulseiras ou colares.
Para Olga Noronha, a componente estética proposta neste projeto acrescenta uma nova função terapêutica às placas de fixação óssea, “enriquecendo” o processo de cura.
Alexandra Matias, professora da FMUP pela mão de quem o trabalho da artista plástica chegou à Faculdade de Medicina, considera que este é “um projeto pioneiro nas faculdades de medicina portuguesas” e lembra que “é uma evidência científica que os médicos expostos à arte têm maior detalhe, mais sensibilidade e empatia. “Juntar arte e medicina e tornar o médico um melhor médico. Porque não tornar esta evidência científica uma realidade?”, questionou-se.
O Arquiteto Mário Ramos, que tem estado envolvido numa série de projetos e iniciativa que a FMUP tem vindo a desenvolver nos últimos anos, é outro dos nomes com que se construiu esta exposição, que vem somar-se a outras já realizadas, designadamente a que abriu, de forma simbólica, o programa de comemorações do Bicentenário, em novembro último, intitulada "A Arte no Ensino da Anatomia", e que o teve, precisamente, como curador.
Bernardo Pinto Almeida sublinha a oportunidade e da relevância do trabalho da escultora, que joga com a possibilidade de implantar no corpo elementos com uma dimensão artística. “É uma ideia muito original e muito pouco explorada”, diz, realçando a preocupação crescente em torno do corpo e da sua transformação na arte contemporânea. Olga Noronha tem tido uma grande ousadia em avançar no campo destas interrogações”, afirma.
A exposição terá uma segunda parte, dedicada ao corpo externo, em data a determinar, na qual participarão vários artistas, incluindo Olga Noronha, com quem o curador quer “dar uma significação de modos de representar o corpo humano. Há uma dimensão estética muito forte, na contemporaneidade, que passa por essa reconfiguração do corpo”.
Licenciada em Design de Joalharia pela Central Saint Martins College of Art and Design (UAL) e Mestre em Investigação em Design pela Goldsmiths College, University of London, Olga Noronha doutorou-se, 2017, na mesma universidade, com bolsa de mérito para doutoramento – Design Star Consortium – Arts and Humanities Research Council (AHRC).
Com múltiplas exposições e publicações nacionais e internacionais nas áreas do design, ciência e arte, coordena o projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), intitulado “Estudo de padrões de filigrana para aplicações em joalharia biomédica”.
Patente na FMUP até ao dia 30 de junho, a exposição é aberta ao público, tendo entre os seus destinatários os membros da comunidade académica, entre os quais os estudantes da FMUP, que assim poderão abrir-se à arte enquanto “forma de pensamento”. A iniciativa tem a participação da ESAD — Escola Superior de Artes e Design (esad – arte&design) e da esad – idea.
Inscrições para a inauguração, no dia 30 de abril, às 18h30, aqui.
Fotos: Joel Ribeiro