Novas escolas médicas: Sim, não, talvez, como, quando, onde? Quantos médicos a mais será preciso formar para resolver os problemas de saúde do nosso país? Foi à volta destes temas que um extenso painel refletiu, na 3.ª Reunião Aberta do Conselho Pedagógico da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), no dia 1 de abril.
Para Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde e líder da Comissão Técnica Independente das ULS Universitárias, convidado especial desta sessão, Portugal “não tem um problema de falta de médicos”.
O problema será, sobretudo, de organização dos recursos. “Em 2015, tínhamos uma despesa de 9 mil milhões e estamos a caminhar para 20 mil milhões. Estamos a pôr muitos recursos, mas não estamos a tirar do sistema as respostas que os portugueses queriam”, afirmou.
O ex-governante do período pós-troika considerou que “o desalinhamento entre as necessidades e a resposta [do Serviço Nacional de Saúde] deve ser olhado muito mais na ótica da organização e da eficiência dos meios e muito menos da perspetiva de abrir faculdades em cada capital de distrito”.
Em seu entender, “abrir ou fechar escolas de Medicina só deve ter em conta se têm qualidade, se acrescentam valor e se servem o interesse público”, o que implica estudar e projetar com base no conhecimento e não no soudbite da rua”, com “politiquices” com os “mitos existentes”.
Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP, exige apenas as condições para manter a qualidade do ensino, de que se orgulha desde 1825, independentemente do número de estudantes que entram por ano (neste, foram cerca de 300).
“O que pode afetar mais a qualidade do ensino são a relações com os hospitais do SNS e a capacidade desses hospitais de acolherem bem os estudantes de Medicina. Mas a FMUP tem muitos protocolos de afiliação, já com mais de 20 hospitais e com muitos centros de saúde”, esperando-se que continue a “abrir-se para o exterior e a usar todos os recursos no SNS e fora do SNS”.
Como resumiu o presidente do Conselho Pedagógico da FMUP, “ficou bem claro que não há falta de escolas médicas em Portugal”. No final da reunião, que considerou “um sucesso a vários níveis”, Roberto Roncon de Albuquerque sublinhou que “o problema tem a ver com a qualidade de avaliação formativa e do futuro dos mestres em Medicina”. Em discussão estiveram também as competências dos futuros médicos e de outros profissionais, de modo que a FMUP se mantenha “na vanguarda do ensino médico pré e pós-graduado”.
Em debate estiveram igualmente questões como a do aumento de médicos não especialistas que preferem prestar serviços como indiferenciados, a “mercantilização” da profissão, medidas como a dedicação exclusiva e o futuro da carreira académica e do médico-investigador, “espécie” cuja extinção Adalberto Campos Fernandes quer combater com “uma reserva natural protegida”.
A propósito, esteve em cima da mesa o relatório apresentado pela Comissão Técnica Independente (CTI) sobre as ULS Universitárias. Adalberto Campos Fernandes, que liderou a CTI, espera que, independentemente do governo que sair das eleições legislativas de 18 de maio, se compreenda que “a criação dos Centros Clínicos Universitários é uma emergência, um imperativo nacional”.
A reunião contou também com Carlos Robalo Cordeiro, presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP) e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), e Firmino Machado, responsável do curso de Medicina da Escola de Medicina da Universidade de Aveiro.
Participaram também o subdiretor da FMUP, Francisco Cruz, o presidente do Conselho de Representantes da FMUP, João Bernardes, o diretor do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP, Gerardo Oliveira, o diretor da Licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica – SauD InoB, João Fonseca, membros de Conselhos Pedagógicos de outras escolas, nomeadamente Mariana Monteiro (ICBAS), José Carlos Machado (ESEP) e Frederico Couto (Universidade Católica), bem como responsáveis de Unidades Pluridisciplinares da FMUP, entre outras personalidades.
A estas juntaram-se a presidente da Associação de Estudantes da FMUP (AEFMUP), Inês Sousa, e o presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) e estudante da FMUP, Paulo Simões Peres, bem como estudantes e membros da comunidade académica, entre os quais docentes e investigadores, e alunos do Ensino Secundário do Colégio Horizonte, em Vila Nova de Gaia.
Esta iniciativa enquadrou-se no programa de comemorações do bicentenário da FMUP, que se prolongará ao longo deste ano.