Resumo (PT):
A angiotensina II (AngII) exerce um importante efeito agudo sobre as propriedades
diastólicas do miocárdio, em particular sobre a distensibilidade, o qual é mediado
pelo receptor AT1 e dependente da proteína cínase C e do trocador Na+/H+. Embora a
endotelina-1 (ET-1) e o endotélio endocárdico (EE) também exerçam um efeito sobre a
distensibilidade, a sua interacção com a AngII permanece por esclarecer.
Os efeitos de concentrações crescentes de AngII (10-8-10-5 M) foram avaliados em
preparações de músculos papilares direitos de coelho imersos numa solução de Krebs
(0,6Hz; 1,8mM Ca2+; 35ºC), nas seguintes condições: (1) protocolo basal com o EE intacto
(Protocolo A); (2) após remoção selectiva do EE com imersão em Triton X-100 (Protocolo
B); (3) com o EE intacto na presença de um antagonista não selectivo dos receptores da
ET-1 (Protocolo C; PD-145065), de um antagonista selectivo do receptor ETA (Protocolo D;
BQ-123), de um inibidor da síntese de óxido nítrico (Protocolo E; NG-nitro-L-arginina) ou de
um inibidor da NAD(P)H oxidase (Protocolo F; apocinina). Resultados apresentados como
média±erro padrão (p<0,05).
No Protocolo A, a AngII induziu um efeito inotrópico positivo e um aumento do comprimento
muscular máximo de 1,020±0,004 L/Lmax. No final do protocolo experimental, a correcção
do comprimento muscular para o seu valor inicial resultou numa diminuição da tensão
passiva em 46,1±4,0%. Após a remoção do EE o efeito sobre a distensibilidade foi abolido.
Nos protocolos C, D, e E os efeitos da AngII sobre a distensibilidade foram atenuados. Para
a concentração de AngII de 10-5 M observou-se um aumento do comprimento muscular
de 1,0087±0,0012, 1,0068±0,0022 e 1,0066±0,0020 L/Lmax, o que corresponde a uma
diminuição da tensão passiva de 22,6±3,6%, 16,1±6,0% e 20,4±5,6%, respectivamente.
A adição de AngII na presença de apocinina aboliu o efeito sobre a distensibilidade.
Em conclusão, o efeito agudo da AngII sobre a distensibilidade está dependente da
integridade funcional do EE e é modulado pelo óxido nítrico, pela ET-1 e pela actividade da
NAD(P)H oxidase. A diminuição da rigidez miocárdica constitui um importante mecanismo
de adaptação em contextos de sobrecarga aguda, permitindo ao ventrículo acomodar
volumes maiores de sangue com menor pressão de enchimento. Estes resultados são ainda
particularmente interessantes na medida em que reforçam evidências prévias a favor de
uma modulação aguda e activa da função diastólica por factores neuro-humorais.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
Notes:
XXX Congresso Português de Cardiologia, publicado na Rev. Port. Cardiol. 2009; Vol.28(Supl.I):I-143.