Resumo (PT):
Ao longo da História o processo de conquista do espaço público por parte das mulheres tem-se caraterizado pela sua lentidão e dificuldade. Sendo o presente bastante mais satisfatório e o futuro aparentemente mais promissor, não se pode negar que existem ainda zonas de penumbra que é preciso iluminar recorrendo a postulados críticos e teóricos legitimados, no sentido de continuarmos a avançar enquanto sociedade que, por um lado, valoriza o conhecimento da história e das realidades sociais e culturais de que somos herdeiros e, por outro, ambiciona construir um futuro mais inclusivo e partilhado.
Embora a priori possa parecer que, para além do género, não existe nada em comum entre uma freira europeia medieval, uma escritora latino-americana do século XIX e uma artista africana contemporânea, na verdade todas elas integram um espaço que ainda nos dias de hoje é considerado «diferencial» (Romiti, 2013): o da cultura produzida por mulheres enquanto sujeitos ativos da sociedade.
Acresce ainda que, durante séculos, o isolamento vivido pelas mulheres com inquietudes culturais, aliado à consequente falta de conhecimento da sua própria genealogia e tradição, bem como à escassez de referentes do seu género, provocou o enfraquecimento das forças comunicantes femininas que poderiam ter contribuído para o reconhecimento das suas produções, transferindo-as das regiões de invisibilidade por onde circularam para uma esfera pública mais legitimada ou até canonizada.
Por conseguinte, considerando como hipótese de partida que existe uma relação estreita entre os mecanismos de emancipação e acesso paulatino ao espaço público (político, intelectual, laboral, etc.) empregados pelas mulheres através dos séculos e a construção da identidade feminina, configurada de maneira mormente coletiva, torna-se necessário oferecer a partir da Academia uma visão panorâmica atualizada desta realidade cruzada que, adotando um enfoque diacrónico, diatópico e intercultural, revisite o acesso histórico da mulher à cultura, enquanto sujeito «nómade, intensivo, múltiple, corporizado» (Braidotti, 1994).
Nesse sentido, o grupo de investigação «Literatura e diálogos interculturais» do CITCEM organiza um colóquio a decorrer na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 10-12 de abril de 2025. Com o marco teórico da geopolítica do conhecimento como pano de fundo, o principal objetivo deste encontro científico é o de colocar o foco em tradições, filiações e redes culturais femininas historicamente marginadas, nomeadamente no triplo eixo geográfico África-Latino-América-Europa, fazendo emergir, assim, intertextualidades e diálogos muitas vezes silenciados. Como a análise deste cenário poliédrico reclama a realização de estudos comparados e sistémicos que favoreçam o desenvolvimento de novas perspetivas críticas, gostaríamos de receber propostas de comunicação provenientes das áreas científicas das Artes e Humanidades e das Ciências Sociais, dando particular destaque àquelas procedentes dos Estudos Literários, dos Estudos Culturais, dos Estudos Fílmicos, da História da Arte, da Sociologia, da Psicologia e da História.
Abstract (EN):
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
No. of pages:
2