Resumo (PT):
O abuso sexual de crianças é um fenómeno multidimensional, objeto de intervenção
de diversas disciplinas, entre elas, a Justiça. No âmbito dos processos penais por abuso
sexual, o testemunho da vítima assume uma importância significativa, dada a ausência, na
maioria dos casos, de testemunhas oculares e a dificuldade em recolher vestígios
biológicos. A vivência processual da criança nem sempre se traduz, porém, numa
experiência positiva e reparadora.
Tendo em conta este facto, o nosso objetivo principal no presente estudo é
compreender, junto de Psicólogos Forenses e Profissionais da Justiça, quais as abordagens
que podem ser potencialmente traumáticas para a criança, simultaneamente vítima e
testemunha, em casos desta natureza. Consequentemente, e adotando uma metodologia
qualitativa, realizámos entrevistas semiestruturadas a profissionais de ambos os grupos e
analisámos as suas perceções, seguindo uma metodologia de análise de conteúdo.
Apesar de ainda persistirem estratégias inadequadas na abordagem da criança, os
resultados gerais indicam-nos que há um esforço coletivo dos Profissionais da Justiça de
readaptação das suas práticas (e.g. adaptação caso a caso; utilização de questões abertas
durante a inquirição) e que estes estão mais conscientes das características específicas
destes casos. Além disso, concluímos que o novo procedimento das Declarações para
Memória Futura não está a corresponder aos objetivos iniciais e que é necessário repensar
a estrutura dos espaços e a condução das inquirições.
No futuro, pensamos ser importante investir na colaboração interdisciplinar e,
sobretudo, na formação especializada dos Profissionais da Justiça.
Language:
Portuguese
No. of pages:
120