Durante a pandemia COVID-19, conforme eram tomadas medidas de distanciamento social, de restrição de circulação ou de encerramento de fronteiras, a interação social foi sendo limitada e, como tal, a solidão tornou-se um dos novos grandes desafios a ser combatido. Como consequência, nos últimos três anos desencadearam-se uma série de discussões à volta deste e de outros temas: o espaço e o mundo interior, a vida doméstica ou a casa.
De qualquer modo, e ainda que o isolamento social se tenha acentuado durante os últimos anos, a solidão não é um problema exclusivo da pós-pandemia, como a arte e a literatura bem demonstram. Estas áreas são espaços privilegiados de representação de paisagens interiores, oferecendo-se a reflexões que têm como principal objetivo o estudo e a análise da solidão e das suas variantes, como a
sozinhice, lexicalmente criada por José Luandino Vieira.
Se, por um lado, ao ser humano é reconhecida uma tendência inata para viver e experimentar o mundo em comunidade, e se é verdade que desde tempos imemoriais homens e mulheres se reúnem para comer, dançar e até mesmo para enterrar os seus mortos, não é menos acertado constatar que alguns permanecem voluntaria ou involuntariamente à margem desses encontros, seja numa perspetiva mais concreta e empírica, seja mais espiritual e metafórica. A arte e a literatura, como expressões de tudo aquilo que é humano, não se escusam, por isso, de dar conta das emoções e da experiência desses marginais ou marginalizados, como é observável desde os primeiros artefactos até aos que são hoje nossos contemporâneos. Pense-se na solidão de Ulisses longe de Ítaca, na de um Adamastor empedernido frente à imensidão do mar, na de Anna Karenina fadada ao isolamento social por causa da paixão, na do estrangeiro Meursault perante a morte, na do animalesco kafkiano Gregor Samsa, encerrado no quarto e rejeitado pela própria família. Os exemplos são infinitos. Não serão, contudo, os sozinhos sempre infelizes na experiência dessa solidão. Em 1891, escreve Emily Dickinson: “I’m Nobody! [...] How dreary — to be — Somebody!”.
Inspirados por esta ambiguidade e crispação (solidão como problema, solidão como solução ou oportunidade) latente no quadro
Cape Cod Morning de Edward Hopper, o
Grupo Representações Locais e Globais do CITCEM organiza um colóquio a decorrer na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nos dias 22 e 23 de novembro de 2023. Pretende-se, por um lado, problematizar a exploração do tão importante e universal tema da solidão, dando conta da sua complexidade social e estético-literária, mas também questionar a respeito dos proveitos e/ou de um certo comprazimento que desta poderão decorrer.
Línguas do colóquio
Português, francês, espanhol e inglês
Entrada Livre!
Transmissão por Zoom:
https://videoconf-colibri.zoom.us/j/5948351404
Programa
Francisco Topa (U. Porto/ CITCEM)
J. Carlos Teixeira (U. Portucalense/CITCEM/CETAPS)
Mafalda Sofia Gomes (U. Porto/ CITCEM)
María del Pilar Nicolás Martínez (U. Porto/ CITCEM)