As complicações digestivas podem atingir até 75% dos doentes diabéticos, comprometendo de forma significativa a sua qualidade de vida. Apesar da elevada prevalência desta complicação, as opções terapêuticas continuam limitadas.

Foi neste contexto que foi criado o DiaGUTis, liderado por Margarida Duarte Araújo, Investigadora do Laboratório Associado de Química Verde da Rede de Química e Tecnologia (LAQV@REQUIMTE) e Docente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), que pretende explorar o potencial de fármacos já aprovados para outras indicações nas complicações intestinais associadas à diabetes.
À investigadora juntaram-se Marisa Esteves Monteiro, também do LAQV@REQUIMTE, Manuela Morato, Docente da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP) e Investigadora do LAQV@REQUIMTE, e Vera Costa, Investigadora da FFUP, do Instituto para a Saúde e Bioeconomia (i4HB) e da Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas (UCIBIO), formando uma equipa de investigação multifacetada.

O DiaGUTis, aposta no reposicionamento de fármacos já existentes – os antagonistas do recetor AT1 da angiotensina II (ARA) – para prevenir a remodelação gastrointestinal provocada pela diabetes. E, de acordo com a equipa, “os resultados preliminares são encorajadores”. Em modelos animais de diabetes, a administração de um ARA conseguiu prevenir a remodelação gastrointestinal. Este avanço levou já ao registo de um pedido de patente internacional (PCT/IB2025/052714), reforçando a ambição de transformar esta descoberta numa solução terapêutica concreta.

Com o financiamento obtido através do programa BIP PROOF, no valor de 10 mil euros, a equipa do DiaGUTis pretende concluir os ensaios pré-clínicos e consolidar a evidência científica necessária para atrair parceiros da indústria farmacêutica. “Parte do montante será também destinado à manutenção da patente internacional”, refere ainda Margarida Araújo.

Impacto social e económico

O projeto DiaGUTis distingue-se não apenas pelo impacto potencial na saúde humana, mas também pelo contributo para a medicina veterinária. A diabetes é igualmente comum em animais de companhia – estima-se que afete 1 em cada 230 gatos e 1 em cada 300 cães – o que torna os estudos em cães e gatos com diabetes espontânea particularmente relevantes.

Além de melhorar a qualidade de vida de pessoas e animais, a iniciativa promove uma abordagem sustentável e eficiente: ao reutilizar medicamentos já existentes, reduz custos, encurta prazos de desenvolvimento e minimiza a necessidade de novos ensaios em animais de laboratório.
Inspirado pelo conceito One Health, que integra saúde humana, animal e ambiental, o projeto posiciona-se como um exemplo de investigação com impacto social, económico e educativo, alinhado com os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.