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O que valem as nossas Elites?

por Cláudia Ribeiro e Óscar Afonso

Todas as sociedades são dominadas por elites, indivíduos com capacidade de coordenação dos recursos disponíveis nessas sociedades, sejam humanos, financeiros, naturais, o conhecimento, e todos os outros. As elites determinam, por essa via, o crescimento económico e o desenvolvimento humano das sociedades em que se inserem.

É neste contexto que surge o índice da Qualidade das Elites (EQx) desenvolvido por investigadores da Universidade de St. Gallen, e que conta com a colaboração de uma rede internacional de parceiros e instituições académicas, em que a FEP é a única representante nacional. Trata-se do primeiro índice mundial que mede a qualidade das elites pela forma como as suas ações e as diferentes abordagens na geração de riqueza favorecem ou dificultam o progresso do seu país.

A qualidade das Elites é um tema recorrente ao longo dos tempos, mas de difícil mensuração se a perspectiva a adotar passar pela identificação individual dessas elites e a posterior medida da sua qualidade. O índice agora proposto contorna esse problema na medida em que avalia o grau de contribuição agregada para a sociedade das elites nacionais. É aqui que reside o seu caráter verdadeiramente inovador. Em vez de medir diretamente a qualidade das elites, o que é virtualmente impossível, fá-lo de forma indireta medindo as consequências agregadas das suas atuações.

No desenvolvimento das suas atividades as elites exploram modelos de negócio para a acumulação de riqueza. Assim, elites de elevada qualidade seguem modelos Criadores de Valor que dão à sociedade mais do que dela retiram (desenvolvem atividades produtivas potenciadoras de riqueza). Nesse processo, aumentam também a sua riqueza individual. É um win-win game em que todos ganham.

Pelo contrário e no outro extremo, elites de baixa qualidade, desenvolvem modelos de Extração de Valor baseados na transferência de valor de um subconjunto da sociedade para outro (o que na terminologia anglo-saxónica se designa por rent seeking). Estão comprometidas em fazer aumentar a sua riqueza individual à custa de valor criado por outros, apropriando-se de mais valor do que aquele que criam para a sociedade. Isto acontece em modelos de negócio baseados em monopólios, em tarifas aduaneiras protecionistas ou em modelos subsídio-dependentes. Estas situações representam verdadeiros entraves ao progresso das sociedades.

Para além da capacidade de criação de valor, o poder concentrado nessas elites é ainda um outro fator condicionador do desenvolvimento futuro das sociedades. A ele corresponde a capacidade das elites em fazer prevalecer as suas preferências e interesses por intermédio das instituições que dirigem (ou que influenciam). Este poder encerra em si um potencial de extração de valor no futuro. Digamos que este poder é condição necessária, mas não suficiente, para proliferação futura de modelos extrativos de valor - rentistas.

Quando conjugamos estes dois fatores, a capacidade de criação ou de extração de valor com o poder concentrado nas elites, podemos classificar o estado das elites e a forma como as suas ações contribuem para o desenvolvimento económico e humano da sociedade.

Assim, no estudo piloto abrangendo 32 países que divulgámos recentemente, a liderar os resultados está Singapura (1º). As suas elites são, destacadamente, as maiores criadoras de valor do planeta. A Cidade-Estado tem um sistema autoritário de governo, e nessa medida as elites políticas e económicas concentram em si um elevado poder, sendo penalizadas por isso pelo índice, mas usam-no na criação de elevado valor para a sociedade.

No ranking seguem-se modelos de elites competitivas, com baixo poder nelas concentrado, mas fortes criadoras de valor. É o caso do modelo germânico seguido pela Suíça (2º) e a Alemanha (3º) cujas elites são fortes criadoras de valor, mas que apresentam potencial de desenvolvimento. É também o caso do modelo Anglo-Saxónico com elites de elevada qualidade e liderado pelo RU (4º) e pelos EUA (5º).

Destaca-se, ainda, a China (12º), uma superpotência emergente, em que as elites apresentam melhor desempenho que vários países da EU. O seu modelo aproxima-se do de Singapura com elites poderosas que colocam esse poder ao serviço do desenvolvimento do país. Os países BRIS (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) estão no fim da tabela entre 23º e 30º. Nestes, as elites concentram elevado poder, explorado no desenvolvimento de modelos extratores de valor ou rentistas (rent seekers).

Os modelos de negócio desenvolvidos pelas elites são, contudo, dinâmicos. O contexto político e as próprias elites mudam ao longo do tempo. Simultaneamente, as sociedades confrontam-se por vezes com fenómenos disruptivos, como a 4ª revolução industrial ou a atual crise pandémica. Tudo isto poderá dar origem ou a uma “destruição criativa” e a modelos de negócio inovadores de criação de valor ou, alternativamente, a modelos crescentemente extratores de valor.

Assim sendo, esta dinâmica justifica, por um lado, a atualização anual do índice agora proposto e, por outro, a utilização da informação nele contida para a identificação de reformas conducentes ao desenvolvimento dos modelos Criadores de Valor e ao mesmo tempo desencorajadores de atividades Extrativas de Valor. Aqui reside a relevância do índice na definição de políticas a nível macro (do país como um todo) e a nível micro (das instituições e empresas).

O Índice da Qualidade das Elites é, assim, constituído por dois sub-índices, como vimos: o índice de valor e o índice de poder e na medida em que se trata de um índice de economia política, cada um deles assume duas dimensões: a política e a económica. A combinação destes dois sub-índices com estas duas dimensões, dá origem às quatro áreas do índice: o Valor económico, o Valor político, o Poder económico e o Poder político.

Cada uma destas áreas é medida por uma multiplicidade de indicadores que captam a dimensão dos efeitos em causa. Ao todo o índice utiliza 72 indicadores, retirados bases de dados diversas com fontes oficiais, governamentais ou institucionais (como o Banco Mundial ou o FMI). Informação transparente e pública.

Resultados a nível nacional

As elites portuguesas estão classificadas a meio da tabela (14º) no conjunto dos países analisados. Apresentam um bom desempenho no sul da Europa (melhor classificadas que a Itália (17ª) ou Espanha (18ª) e até mesmo que a França (15ª)) ... mas com muito trabalho pela frente!

Esta realidade poderá ser o catalisador de uma nova fase de convergência real com os restantes países Europeus, já iniciada antes da atual crise pandémica, mas que com esta sofreu um forte revés, como os dados da Eurostat recentemente o comprovam, pela maior exposição de Portugal às suas consequências. De facto, a variação homóloga do PIB neste 3º trimestre caiu 13,9% no conjunto de toda a União Europeia, sendo que Portugal regista a terceira pior queda (16,3%), apenas ultrapassado pela Espanha (22,1%), pela França (18,9%) e por Itália (17,7%).

Esta classificação de Portugal no ranking da qualidade das elites (14º) esconde, contudo, grandes disparidades ao nível das quatro áreas do índice, revelando melhor desempenho ao nível da capacidade de criação de valor por parte das elites económicas (10º) e muito pior pelas elites políticas (25ª), que os diversos indicadores que suportam o índice nos permitem compreender e medir.

Está já previsto o alargamento do estudo a mais de 100 países num relatório a divulgar no início de janeiro, com atualizações anuais daí em diante.

Tudo isto, e muito mais, disponível em www.elitequality.org.


Claudia_Ribeiro Oscar Afonso
Cláudia Ribeiro Óscar Afonso
Investigadores da FEP responsáveis pelo estudo
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