Resumo (PT):
Realizada no âmbito do Mestrado em Ciências da Educação, domínio “Educação, Comunidades e Mudança Social”, a presente dissertação visou aproximar-se de crianças reconhecidas e que se reconhecem como leitoras para compreender as suas experiências com os livros e a leitura ao construírem-se enquanto crianças leitoras, isto é, com gosto e prazer pelo ato de ler.
Os contributos da filosofia, da sociologia da educação e dos estudos sociais da infância, disciplinas com as quais as Ciências da Educação dialogam, fundamentam o entendimento da leitura enquanto experiência subjetiva e autorreflexiva, e como da experiência sociocultural que constrói crianças leitoras na pós-modernidade. A pesquisa qualitativa com 15 crianças leitoras a frequentarem o 2º e 3º ciclo de escolaridade numa escola pública implicou escutá-las acerca das suas experiências com os livros e a leitura nos contextos da família, escola e de pares e dos sentidos subjetivos vividos/atribuídos através de entrevistas semiestruturadas. Implicou ainda a recolha de opiniões de mães/pais através de inquéritos por questionários com perguntas fechadas e abertas acerca das suas práticas com os livros e a leitura e suas memórias de infância.
A análise de conteúdo qualitativa e quantitativa permite afirmar que i) o grupo de crianças leitoras é, sobretudo, constituído de raparigas e mais velhas/os; ii) suas/seus mães/pais têm 12 ou mais anos de escolaridade, pertencendo a grupos das classes média e média alta; iii) as práticas de leitura familiar muito precoces geram disposições sociais para a leitura, antes mesmo da sua entrada na escolaridade obrigatória, havendo grande acessibilidade a livros consoante os géneros e sugestões das crianças; iv) na construção de si como leitoras as crianças reiteram como experiência marcante as práticas de socialização familiar com os livros e a leitura, acrescida da chegada a uma dada idade
associada a transições de ciclos de escolaridade, das leituras continuadas por coleções de livros, da frequência da biblioteca escolar e do reconhecimento público através de concursos de leitura, e dos sentidos de prazer, conhecimentos e refúgio vividos na experiência de ler. Crianças cujas práticas familiares não são conformes ao retrato sociocultural facilitador de habitus de leitura sublinham na sua construção como leitoras o contributo relevante as práticas das instituições socioeducativas para a infância e da escola, dos seus respetivos profissionais e de colegas, bem como do recurso a estratégias pessoais para prosseguirem a satisfação do seu gosto por ler.
Language:
Portuguese
No. of pages:
230