Resumo (PT):
As cheias são eventos que se têm vindo a agravar ao longo do tempo, por toda a Europa, motivo pelo qual foi aprovada a Diretiva 2007/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 23 de Outubro de 2007 relativa à avaliação e gestão dos riscos de inundações. Exemplo recente de cheias devastadoras foi o que ocorreu na Bósnia e Sérvia (Maio de 2014) e que levou a que cerca de 500 000 pessoas abandonassem as suas casas. Estas cheias são consideradas as maiores dos últimos 120 anos na região dos Balcãs, consequência de três dias em que o valor de precipitação foi o mesmo que costuma ocorrer em três meses. Um milhão de pessoas ficaram sem água potável ou eletricidade e estimam-se cerca de 50 vítimas mortais.
Por estes motivos, têm sido desenvolvidos na Europa, estudos no sentido de modelar as cheias e produzir cartografia diversa. Segundo o trabalho de Moel et al. (2009), os mapas que têm sido produzidos na Europa referem-se sobretudo à extensão das cheias. No que diz respeito à perigosidade, poucos são os países que já começaram a aplicar metodologias para a elaboração destes mapas. No entanto, alguns investigadores já estabeleceram matrizes de intensidade-probabilidade que relacionam parâmetros hidráulicos com a recorrência dos episódios de cheia para determinar a perigosidade a cheias (Moel et al., 2009; Merz et al., 2007; Juillet, 2011).
No Decreto-Lei n.º115/2010, que transpõe a Diretiva 2007/60/CE para a legislação portuguesa, é mencionado que a delimitação das áreas ameaçadas pelas cheias deve ser sustentada pela modelação hidrológica e hidráulica em áreas urbanas, incluindo a informação relativa ao edificado e infraestruturas.
O trabalho que se apresenta vai ao encontro do estipulado na legislação, procurando dar resposta a alguns dos requisitos da Diretiva 2007/60/CE, nomeadamente, a elaboração de cartas com as áreas inundáveis e da perigosidade a cheias, tendo como área de estudo um segmento do rio Leça, localizado em Leça do Balio (Matosinhos). Por outro lado, pretende-se estabelecer condicionantes para a edificação, consoante o grau de perigo da área em que se implanta. Para tal, inicialmente aplicou-se um modelo hidráulico, usando o software Hec-Ras, para a obtenção de parâmetros como a extensão da cheia, a altura da coluna de água e a velocidade da água para os períodos de retorno de 10, 50 e 100 anos. Os elementos geométricos necessários ao modelo foram obtidos a partir de um modelo digital de terreno gerado com cartografia à escala 1:1000 (curvas de nível equidistantes 1m) e os valores dos caudais máximos de cheia foram calculados com base na fórmula de Giandotti. A modelação foi melhorada e ajustada à realidade mediante o levantamento em campo de alguns elementos que não constavam da cartografia de base, com recurso a um distanciómetro (Gonçalves, 2012). No final, foi aplicada uma matriz de intensidade-probabilidade que relacionou os parâmetros da velocidade e da altura da coluna de água com a recorrência das cheias com o objetivo de se obter o mapa da perigosidade a cheias nesta área.
A inclusão de novos dados ao modelo foi crucial para que se obtivessem resultados o mais realista possíveis. Estes foram validados com base em entrevistas e fotografias dos moradores locais e em notícias de jornais. Os resultados mostram que a extensão da cheia não é muito elevada, com exceção do setor localizado montante.
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Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific