Resumo (PT):
A aprovação da Diretiva 2007/60/CE, de 23 de Outubro de 2007, reforçou, entre outros aspetos, a necessidade de se efetuar uma avaliação preliminar do risco de inundação e de se produzir cartografia diversa de suporte à gestão destes episódios, que se têm vindo a agravar no país e na Europa, quer pelo número de ocorrências, quer pelo aumento de vítimas e prejuízos materiais. Em Portugal e abordando esta temática, foram divulgados em 2013 os resultados do projeto DISASTER (http://riskam.ul.pt/disaster/) que compila numa base de dados SIG as ocorrências de origem hidro-geomorfológica que se registaram entre 1865 e 2010, com consequências diretas sobre a população, nomeadamente, o número de mortes e/ou desaparecidos e deslocados e/ou desalojados (Santos et al., 2014; Bateira et al., 2013). Um outro projeto a decorrer é o CIRAC (http://cirac.apseguradores.pt/), uma parceria entre a FCUL e a APSeguradores, que avançou com a avaliação do risco de cheias a nível nacional, reforçando a sua importância estratégica para o setor segurador. No mesmo projeto, desenvolvem estudos de vulnerabilidade social e física e a modelação hidrodinâmica de forma a definir as zonas inundáveis e, por fim, produzir cartografia de risco (Dias et al., s/d).
Neste trabalho apresenta-se um ensaio metodológico, de resposta a alguns objetivos da referida Diretiva, baseado na aplicação de um modelo para a obtenção automático de vários parâmetros hidráulicos para um setor do rio Uíma, afluente do rio Douro, localizado em Santa Maria da Feira, no Norte de Portugal. Para o efeito, recorreu-se ao software Hec-Ras para se modelarem os parâmetros da velocidade e da altura da coluna de água para os períodos de retorno de 10, 50 e 100 anos, tendo por base um modelo digital de terreno bastante detalhado (cartografia à escala 1:1000). Na modelação foram considerados os afluentes que confluem para o segmento principal do rio em estudo e também a secção de vazão das pontes ao longo do setor em estudo (Gonçalves, 2012), as quais, alteram a dinâmica natural do escoamento fluvial. Posteriormente estabeleceu-se uma matriz de intensidade-probabilidade que permitiu relacionar estes parâmetros com a frequência de ocorrência de cheias de forma a determinar a perigosidade a estes eventos (Moel et al., 2009; Merz et al., 2007).
Os resultados evidenciam algumas diferenças relativamente aos perímetros de inundação para os períodos de retorno considerados, sobretudo na área central da planície de inundação. A altura da coluna de água, calculada para uma cheia centenária, apresenta valores mais elevados nos segmentos do rio a montante das pontes, uma vez que são estruturas que funcionam como obstáculos à livre circulação da água, e no setor montante do rio, onde o vale é mais estreito. Também se verifica que a velocidade da água é maior nesses segmentos do rio, sendo, no entanto, mais evidente a jusante das pontes. A perigosidade a cheias, ao resultar da combinação destes fatores e do período de retorno dos eventos, apresenta um maior grau de perigo nesses segmentos.
A metodologia aplicada e os resultados obtidos visam ser um contributo para os municípios portugueses, que terão de efetuar estudos semelhantes aos que se apresentam de forma a dar cumprimento ao estipulado na Diretiva 2007/60/CE e para o desenvolvimento operativo da elaboração de cartografia de perigosidade a cheias, que, como refere Moel et al. (2009), ainda está pouco desenvolvido na Europa. Por outro lado, os resultados são importantes sob o ponto de vista do ordenamento do território e da prevenção/proteção do risco, pela identificação de áreas problemáticas em termos de perigosidade e dos elementos expostos. De referir ainda a relevância das matrizes de intensidade-probabilidade na mitigação dos episódios de cheia, sendo a sua delineação uma mais-valia para as autarquias, para as seguradoras e para a comunidade em geral.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific