Resumo (PT):
No Noroeste da Península Ibérica, os estudos comprovam a presença de vestígios glaciares a baixas altitudes (Perez-Alberti et al., 1993). Assim, e tendo como ponto de partida os trabalhos realizados por outros investigadores (Coudé-Gaussen, 1981; Coudé et al., 1983; Moreira & Ramos, 1981, Pereira et al., 2009; Santos et al., 2013; entre outros), retoma-se o estudo da Glaciação Plistocénica no setor do Alto Vez (serras da Peneda-Soajo), numa área que abrange parte dos concelhos de Arcos de Valdevez, Melgaço e Monção.
Foi a partir dos anos 70, com os trabalhos de Coudé-Gaussen (1981), que vários factos e testemunhos foram evidenciados sobre esta problemática, clarificando que efetivamente, durante o final do plistocénico, as Serras da Peneda e do Gerês apresentaram uma cobertura glaciária (Soares de Carvalho, 1981).
Neste trabalho apresentam-se os resultados preliminares da investigação que decorre sobre a glaciação Plistocénica desta área, nomeadamente: a análise morfométrica dos circos glaciários existentes no maciço montanhoso Soajo-Peneda, o cálculo da espessura da língua glaciária do vale do Rio Vez aquando da sua máxima extensão e um esboço geomorfológico de pormenor para este setor.
A morfometria dos circos glaciares no Alto Vez foi estudada a partir da metodologia seguida por Hughes et al. (2007) e aplicada nas montanhas do Mediterrânico (Bathrellos et al., 2014). A morfometria dos circos consistiu em medir os seguintes parâmetros: área dos circos; comprimento dos circos; largura dos circos; rácio do comprimento/largura dos circos; rácio da largura/amplitude dos circos; altitude do “ápex” de cada circo; altitude do “lip” de cada circo; amplitude entre a altitude máxima (“ápex”) e a alitude mínima (“lip”); geologia de cada circo e orientação segundo os quadrantes em octantes de cada circo. Os parâmetros foram calculados através do software ArcGIS da ESRI e do Microsoft Excel. No Alto Vez foram identificados 26 circos (Tabela I), cuja área média ocupada é 39354,33m2, o comprimento médio é de 223,63m e a largura média é de 283,98m. Através do rácio largura-comprimento e do rácio largura-amplitude foi possível conhecer o alongamento dos circos e o seu grau de incisão. Assim, o circo mais alongado apresenta um rácio de 1,45m, numa média de 0,86m, e o circo com maior incisão apresenta um rácio de 1,81m, numa média de 29,04m. A amplitude média, isto é, a diferença média entre a altitude máxima do circo (“ápex”) e a altitude mínima do circo (“lip”), é de 30,91m, variando entre os 0,60m e os 115,36m. Relativamente à orientação dos circos, verifica-se um domínio dos circos virados a leste. A geologia predominante nos circos é o granito de grão médio, de duas micas, com 20 circos.
O cálculo da espessura máxima da língua glaciária com base nas evidências geomorfológicas foi executado segundo o método proposto por Benn & Hulton (2010). Desse modo, estima-se que a espessura máxima da língua glaciária atingiu cerca de 150 metros e que a altitude máxima da língua de gelo alcançaria os 1300m. O setor onde o gelo se acumulou com mais abundância corresponde a uma área aplanada que se desenvolve no alto vale do Rio Vez, entre os 1000 e os 1150m de altitude. Neste setor encontram-se igualmente inúmeras moreias laterais que podem representar as diferentes fases da glaciação.
A cartografia geomorfológica já executada permite esboçar uma visão preliminar da área glaciada e o registo de mais elementos que comprovam a extensão da glaciação. O reconhecimento de campo mais detalhado de alguns setores permitirá afinar a modelação que se está a desenvolver sobre a área glaciada e caracterizar de forma mais assertiva as fases de avanço/retrocesso da glaciação.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific