Resumo (PT):
Estudos recentes revelaram que cardiomiócitos(CM) hipertróficos provenientes de doentes
com hipertensão arterial(HT) e fracção de ejecção(FE) preservada tem maior rigidez
miocárdica que CM controlo ou de doentes com FE reduzida. Esta elevada rigidez contribui
significativamente para a disfunção diastólica. O objectivo deste estudo consistiu em
esclarecer se este fenótipo é especificamente induzido pela sobrecarga crónica de pressão
(SCP) associada à HT. Para tal, avaliaram-se a função sistólica (tensão activa(TA)), diastólica
(tensão passiva(TP)) e alterações estruturais de CM sujeitos a 2 tipos de SCP: HT e estenose
aórtica(EA). CM isolados de biópsias humanas de corações saudáveis, com EA, com HT e
ambos (EA+HT) foram incubados com Triton para remoção das membranas. Posteriormente,
foram individualmente fixados com um comprimento de sarcómero de 2,2μm entre um
transdutor de força e um motor e incubados em soluções com diferentes [Ca2+] para
determinar a sensibilidade dos miofilamentos ao Ca2+(pCa50), a TA e a TP. Por último, foram
incubados com PKA e repetidas estas medições. Por último, quantificou-se o diâmetro dos
CM(DCM) e a fracção de colagénio(CVF). Os resultados encontram-se expressos pela
média±EPM e resumidos na tabela. Todos os grupos apresentaram CVF significativamente
superior ao controlo (5,4±2,2%) mas sem diferenças significativas entre si. Também o DCM
destes grupos foi significativamente superior ao controlo, sendo a hipertrofia do grupo EA e
EA+HT significativamente superior ao de HT. Apesar desta diferença, o grupo HT apresenta
maior TP, traduzindo uma maior rigidez, a qual, após incubação com PKA, foi
significativamente reduzida. A TA é significativamente inferior no grupo EA antes e após a
incubação com PKA. pCa50 é significativamente superior nos grupos EA+HT e HT mas foi
normalizada pela PKA para valores semelhantes aos de EA. Concluímos que diferentes tipos
de SCP induzem diferentes respostas nos miofilamentos dos CM. A pós-carga resistiva
imposta pela EA é mais precoce durante a sístole alterando a função sistólica (redução da TA)
apesar do maior DCM e sem alteração das propriedades passivas miocárdicas. Por outro lado,
uma pós-carga de capacitância, como na HT, resulta num aumento da rigidez e pCa50 sem
alteração das propriedades sistólicas. Este estudo sugere que a natureza e o momento da
imposição da póscarga são importantes determinantes da resposta desenvolvida pelos CM.
EA EA+HT HT
DCM (μM) 22,84±0,88 22,39±0,47 19,94±0,64 a,b
TA 10,63±1,42 16,33±1,08 a 16,55±1,04 a
TA-PKA 11,99±1,76 17,97±1,40 a 17,95±1,05 a
TP 2,33±0,21 2,30±0,38 7,34±061 a,b
TP-PKA 2,11±0,20 1,88±0,27 4,39±0,41 a,b
pCa-50 5,70±0,02 5,80±0,02 a 5,80±0,03 a
pCa50-PKA 5,61±0,03 5,63±0,01 5,60±0,03
P<0,05: a vs EA; b vs EA+HT
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
Notes:
XXVIII Congresso Português de Cardiologia, Publicado na Rev. Port. Cardiol. 2007; Vol.26(Supl.II):II-100.