Resumo (PT):
A urotensina II (U-II) é um agente vasoactivo com propriedades moduladoras do
sistema cardiovascular. Recentemente demonstrámos que a U-II diminui agudamente
a rigidez miocárdica. No presente estudo investigámos possíveis mediadores deste
efeito.
Os efeitos miocárdicos da adição de concentrações crescentes de U-II (10-8-10-6M)
foram avaliados em músculos papilares de coelhos (Krebs-Ringer: 1,8mM CaCl2,
35ºC): (i) com endotélio endocárdico (EE) intacto (n=15); (ii) após remoção do EE
(Triton X-100, 0,5%, 1s; n=9); e na presença de (iii) urantide (URT, antagonista do
receptor da U-II; 10-5M; n=6); (iv) indometacina (INDO, inibidor da ciclooxigenase; 10-
5M; n=8); (v) NG-Nitro-L-Arginina (LNA, inibidor das síntases do óxido nítrico; 10-5M;
n=9); e (vi) cheleritrina (CHE, inibidor da PKC; 10-5M; n=6). Parâmetros avaliados:
tensão activa (TA; mN/mm2), velocidades máximas de elevação e queda da tensão
(dT/dtmax e dT/dtmin, respectivamente; mN/mm2/s), tensão passiva (TP; mN/mm2)
e comprimento muscular (L/Lmax). Resultados expressos como média±EPM, em %
valor basal (p<0.05).
A adição de concentrações crescentes de U-II teve um efeito inotrópico e lusitrópico
negativo dependente da concentração, tendo-se observado com 10-6M uma
diminuição de 13,8±5,4% TA, 12,0±5,3% dT/dtmax, 15,5±4,4% dT/dtmin. Estes efeitos
mantiveram-se com os outros protocolos. Relativamente às propriedades diastólicas
do miocárdio, a mesma concentração de U-II aumentou o comprimento muscular em
1,007±0,001 L/Lmax, correspondendo a uma diminuição de 18.1±3.0% da TP,
traduzindo uma redução significativa da rigidez miocárdica. Este efeito manteve-se
após a remoção do EE e da inibição da PKC. Na presença de INDO verificou-se uma
atenuação dos efeitos da U-II no comprimento muscular que representou uma
diminuição da TP de 11,6±3,1%. Na presença de URT e de LNA os efeitos de U-II não
alteraram significativamente o comprimento muscular ou a TP.
Este estudo demonstra que a diminuição aguda da rigidez miocárdica induzida pela
U-II é atenuada pela inibição da libertação das prostaglandinas e completamente
abolida na presença de um antagonista do seu receptor e de um inibidor da
libertação de óxido nítrico. Estes resultados assumem particular relevância para o
esclarecimento da fisiopatologia da Insuficiência Cardíaca, uma vez que nesta
síndrome, onde os níveis de U-II estão aumentados, tal aumento na distensibilidade
pode contribuir para a dilatação ventricular.
Language:
Portuguese
Type (Professor's evaluation):
Scientific
Notes:
XXVIII Congresso Português de Cardiologia, publicado na Rev. Port. Cardiol. 2007; Vol.26(Supl.II):II-100.