Resumo (PT):
Introdução: Com o envelhecimento da população mundial, a prevalência de doenças crónicas em adultos tem aumentado, levando a uma prevalência mais elevada de multimorbilidade - a coexistência de duas ou mais doenças crónicas num indivíduo -, particularmente entre adultos mais velhos. A multimorbilidade está associada a um aumento da mortalidade, limitações funcionais e uma redução da qualidade de vida, tanto para os indivíduos afetados como para os seus cuidadores, o que apresenta desafios consideráveis para os sistemas de saúde, tradicionalmente centrados na gestão individual de doenças. O isolamento social e a solidão são determinantes sociais da saúde inter-relacionados, mas distintos, que influenciam uma série de outcomes na saúde. No entanto, os seus efeitos independentes sobre a multimorbilidade continuam pouco explorados.
Objetivos: O principal objetivo deste estudo foi investigar as associações independentes entre isolamento social e solidão com a multimorbilidade em adultos portugueses. Especificamente, pretendemos avaliar de que forma estes fatores psicossociais influenciam o número e o tipo de doenças crónicas.
Métodos: Este estudo utilizou dados da coorte EPIPorto, composta por 2.485 adultos recrutados entre 1999 e 2003, com o último seguimento em 2022. Para responder à existência de heterogeneidade na medição da multimorbilidade, este estudo seguiu os critérios do consenso internacional de Delphi para a definição e avaliação da multimorbilidade. Foram criados diferentes outcomes de multimorbilidade: 1) a contagem total de doenças crónicas; 2) um subgrupo específico de doenças que envolvem os sistemas cardiovascular, metabólico/endócrino, mental/comportamental e musculoesquelético, identificado por análise de componentes principais; e 3) a contagem de doenças dentro de cada um destes subgrupos. O isolamento social foi determinado pelo tamanho do agregado familiar, categorizado como viver sozinho, viver com 1 pessoa ou viver com ≥2 pessoas, enquanto a solidão foi medida com recurso à Escala de solidão da UCLA, incluindo as suas diferentes dimensões (isolamento social e afinidades). Utilizámos Modelos Lineares Generalizados com uma distribuição de Poisson para explorar as associações entre isolamento social, solidão e outcomes de multimorbilidade. Foram calculados os riscos relativos ajustados (aRR) com intervalos de confiança (IC) de 95%.
Resultados: O isolamento social não apresentou associação com a contagem total de doenças, mas os agregados familiares maiores (viver com ≥2 pessoas) mostraram-se associados a um risco aumentado de doenças metabólicas/endócrinas (aRR=1,50, IC 95%: 1,11-2,02). A solidão não se mostrou significativamente associada à contagem total de doenças, mas mostrou associação com um maior risco de desenvolvimento de multimorbilidade no subgrupo específico de doenças (aRR=1,13, IC 95%: 1,05-1,21), especificamente em condições mentais/comportamentais (aRR=1,25, IC 95%: 1,11-1,40). A dimensão de isolamento social da escala UCLA demonstrou associação com o subgrupo específico de doenças (aRR=1,20, IC 95%: 1,08-1,35), especificamente com um aumento do risco de doenças cardiovasculares (aRR=1,17, IC 95%: 1,05-1,32), metabólicas/endócrinas (aRR=1,20, IC 95%: 1,05-1,37) e mentais/comportamentais (aRR=1,29, IC 95%: 1,07-1,56).
Conclusão: Este estudo sugere que o isolamento social e a solidão estão associados de forma distinta à multimorbilidade, com efeitos que variam consoante o tipo de doenças crónicas e o método de medição. Estes resultados realçam a necessidade de intervenções de saúde pública baseadas em evidência e desenhadas de modo a abordar as formas específicas através das quais os fatores sociais influenciam os outcomes de saúde em adultos mais velhos. Os programas de educação para a saúde devem sensibilizar os profissionais de saúde, as comunidades e os decisores políticos para os efeitos prejudiciais do isolamento social e da solidão.
Abstract (EN):
Background: As the global population ages, the prevalence of chronic conditions in adults has increased, leading to a higher prevalence of multimorbidity - the coexistence of two or more chronic conditions within one person -, particularly among older adults. Multimorbidity is associated with increased mortality, functional limitations, and a reduced quality of life for both affected individuals and their caregivers, posing significant challenges for healthcare systems, traditionally focused on managing single diseases. Social isolation and loneliness are related, yet distinct, social determinants of health that influence a wide range of health outcomes. However, their independent effects on multimorbidity remain underexplored.
Objectives: The main objective of this study was to investigate the independent associations between social isolation and loneliness with multimorbidity among Portuguese adults. Specifically, we aimed to assess how these psychosocial factors influence the number and type of chronic conditions.
Methods: This study used data from the EPIPorto cohort, comprising 2,485 adults recruited between 1999 and 2003, with the latest follow-up in 2022. To address the heterogeneity in multimorbidity measurement, the research followed the international Delphi consensus criteria for multimorbidity definition and assessment. Different multimorbidity outcomes were computed: 1) the total count of chronic conditions; 2) a specific subgroup of conditions involving cardiovascular, metabolic/endocrine, mental/behavioural, and musculoskeletal systems, identified by principal component analysis; and 3) the count of conditions within each of these subgroups. Social isolation was determined by household size, categorized as living alone, living with 1 person, or living with ≥2 persons, while loneliness was measured using the UCLA Loneliness Scale, including its different dimensions (social isolation and affinities). We employed Generalized Linear Models with a Poisson distribution to explore the associations between social isolation, loneliness, and multimorbidity outcomes. Adjusted relative risks (aRR) with 95% confidence intervals (CI) were calculated.
Results: Social isolation did not show an association with the total disease count, but larger households (living with ≥2 persons) were linked to an increased risk of metabolic/endocrine conditions (aRR=1.50, 95% CI: 1.11-2.02). Loneliness was not significantly associated with the total disease count but was associated with a higher risk of developing multimorbidity from the specific subgroup of conditions (aRR=1.13, 95% CI: 1.05-1.21), specifically mental/behavioural conditions (aRR=1.25, 95% CI: 1.11-1.40). The social isolation dimension of the UCLA scale was associated with the specific subgroup of conditions (aRR=1.20, 95% CI: 1.08-1.35), specifically with an increased risk of cardiovascular (aRR=1.17, 95% CI: 1.05-1.32), metabolic/endocrine (aRR=1.20, 95% CI: 1.05-1.37), and mental/behavioural (aRR=1.29, 95% CI: 1.07-1.56) conditions.
Conclusion: This study suggests that social isolation and loneliness are distinctly associated with multimorbidity, with effects varying according to the type of chronic conditions and the measurement method. These findings stress the need for evidence-based public health interventions to address the specific ways in which social factors influence health outcomes. Health education programs should raise awareness about the detrimental effects of social isolation and loneliness among healthcare providers, communities and public decision-makers for an efficient allocation of resources.
Language:
English
No. of pages:
51