Segredos e histórias de duas plantas simbólicas do Natal
Azevinho: uma planta sagrada
Todos os nomes têm uma história própria e relacionada com o povo que criou, ou adaptou, esse mesmo nome. É o caso do Azevinho a quem os romanos chamavam “Aquifolium”, isto é, com folhas espinhosas, mas a quem o grande Lineu chamou “Ilex” (pontiagudo), um termo de origem celta usado no império romano para designar a azinheira (Quercus ilex).
Para quem não está familiarizado com o que os botânicos designam como
Ilex aquifolium, o
Azevinho, haverá que dizer que se trata de uma espécie dioica, isto é, com árvores femininas e árvores masculinas, de crescimento lento e em que, alguns indivíduos podem atingir os 4-6 metros e viver 300 anos. A árvore, no que às folhas respeita, designa-se “
sempreverde” já que mantêm todo o ano as suas folhas verde-escuras, lustrosas e espinhosas. As suas flores (tanto femininas como masculinas), quase inconspícuas, são brancas e dão origem (as femininas) a frutos que poderão ser amarelos, negros ou brancos, mas que mais normalmente são vermelhos.

Na antiguidade tempos houve em que se dava muito valor a uma “linguagem das plantas”, adornando-se casas, templos e até mesmo pessoas, com grinaldas e ornamentos florais que pretendiam transmitir uma mensagem. Os romanos, por exemplo, ofereciam aos recém-casados, coroas de azevinho como votos de parabéns e dos melhores desejos. Celebravam durante o solstício de Inverno uma semana de festejos, a Saturnalia, em que homenageavam o deus Saturno, deus da agricultura, trocando entre eles presentes decorados com azevinho.
De modo semelhante, os druidas da Gália e os celtas acreditavam que o sol que aquecia as folhas de azevinho nunca o deixava. Por isso mesmo decoravam as suas casas, no Inverno, com ramos de azevinho para “aquecer o ambiente e permitir que os espíritos da floresta pudessem refugiar-se nas suas casas, nesses ramos cheios de sol e esperando que os espinhos das folhas mantivessem os maus espíritos afastados, naqueles meses frios de Inverno.
Também algumas tribos de nativos norte-americanos plantavam azevinhos perto dos seus acampamentos e encontraram a forma de preservar os frutos vermelhos, mantendo-os redondos e brilhantes. Esses frutos eram depois utilizados os para a decoração das roupas e cabelos, bem como moeda de troca com outros povos. O forte tronco representava para estes povos a sua força e a longevidade das folhas, a sua coragem contra o inimigo.
Claro que uma árvore totalmente verde que não é uma conífera (como os pinheiros) e, ainda por cima, com frutos vermelhos, se destaca imensamente numa paisagem acinzentada ou branca de inverno e as pessoas adoram. E foi assim que os mitos e tradições associados a esta espécie foram transmitidos ao longo do tempo e chegaram aos cristãos europeus que o incorporaram nas festas de Natal.
Para os cristãos, as folhas sempre verdes, cor da eternidade, evocam o quanto a igreja iria ser eterna, os seus frutos vermelhos o sangue derramado por Cristo e os espinhos das folhas, a Paixão do Senhor. Assim, misturando o legado romano da Saturnalia, tradições germânicas e outras, criou-se uma festa que celebra o nascimento de Jesus e pretendia fazer esquecer todas as tradições e lendas pagãs.
Em muitos países, sobretudo naqueles que não o possuem ou em que é raro, o azevinho é tradicionalmente uma árvore tão importante que em muitas regiões de Inglaterra, por exemplo, chamam-lhe apenas … “Natal” (Christmas).
Artigo: Rubim Almeida | Departamento de Biologia da FCUP
Fotos: © Rubim Almeida