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Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

Joaquim Gonçalves da Silva

Fotografia de Joaquim Gonçalves da Silva / Photo of Joaquim Gonçalves da Silva Joaquim Gonçalves da Silva
1863-1912
Escultor, desenhador e professor



Joaquim Gonçalves da Silva nasceu a 16 de dezembro de 1863 e foi batizado na Sé do Porto 10 dias mais tarde. Foi registado como filho de Ana Francisca de Sousa, solteira, criada, residente no Porto, e de pai incógnito (identificado em 1889 como António Gonçalves da Silva, portuense, marceneiro e entalhador). Por padrinhos teve Joaquim da Silva, marceneiro, e Ana Francisca, moradores em Vila Nova de Gaia.

Aos 11 anos começou a trabalhar na Fábrica de Cerâmica das Devesas onde estudou Desenho e Modelação para operários-oleiros e cursou Desenho Aplicado às Artes Industriais. Terá frequentado o ensino artístico livre ministrado no Centro Artístico Portuense e também estudou na Academia Portuense de Belas Artes entre 1888 e 1897, apesar de, a partir de 1895, já se apresentar como professor de desenho e desenhador de retratos.
Gonçalves da Silva ingressou nesta Academia aos 24 anos de idade quando se matriculou no 1.º ano do Curso de Desenho Histórico. Era então casado com Elisa Pereira Canedo e morador na Lavoura do Candal. Entre 1889-1890 transitou para o 3.º ano. Prosseguiu os estudos até ao 5.º e, em 1892, após conclusão do curso de Desenho Histórico, ingressou no 1.º ano dos cursos de Pintura Histórica, de Escultura e de Arquitetura. Em 1895 suspendeu a frequência de Escultura e Arquitetura e prosseguiu Pintura. Em janeiro/fevereiro de 1897 interrompeu a frequência das Aulas de Pintura do 4.º ano mediante apresentação de atestado médico passado pelo Dr. José Joaquim Ferreira, por “sofrer de perturbações do systema nervoso central”.

Enquanto trabalhador-estudante obteve o 2.º prémio no concurso anual de Desenho Histórico da APBA (1890). Em 1891 foi distinguido como um dos melhores operários da Fábrica das Devesas durante uma visita Real à empresa, tendo obtido uma bolsa de estudos no valor de 15.000 reis (que lhe permitiu trabalhar e frequentar à noite a Escola Passos Manuel). Em 1892 foi-lhe concedido um subsídio régio para conclusão dos estudos na APBA (12 mil reis mensais).

Gonçalves da Silva foi premiado em várias das exposições de trabalhos escolares na APBA. Ficou em 1.º lugar quando se tratou da atribuição do Prémio Anual de Desenho Histórico, em 1891, com a cópia de uma estátua. Fora do âmbito escolar participou na Exposição Industrial e Agrícola de Gaia (1894), na IX Exposição de Arte do Ateneu Comercial do Porto (1895) e na Exposição de Belas Artes na Fotografia União (1908).

Ao longo da carreira colaborou não só com artistas de renome, mas também com principiantes. No final da década de 90 do século XIX, o escultor António Teixeira Lopes contratou-o como ajudante para a sua oficina. Aqui participou na produção de importantes peças artísticas como a espada de Mouzinho de Albuquerque e um monumental centro de mesa, premiado na Exposição Universal de Paris de 1900, os quais haviam sido encomendados em 1897 por Pedro de Araújo e executados em parceria com a Casa José Rosas & C.ª. Também esteve envolvido nos trabalhos preparatórios das portas da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro (1898), e na modelação de uma cruz processional para a Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis, oferecida por Manuel Joaquim Gomes Pinto e Teresa Pinto de Oliveira.

Para obras do arquiteto José Marques da Silva, no Porto, Gonçalves da Silva construiu modelos da empreitada da Estação de S. Bento e modelou duas carrancas - uma velha e um velho – para o Teatro S. João (decoram a fachada lateral do edifício, voltada para a travessa do Cativo). Para o Palacete Lopes Martins (Praça do Marquês de Pombal), reformado pelo mesmo arquiteto, modelou o armário-louceiro da sala de jantar, projetado pelo arquiteto e entalhador Francisco Marques.

Joaquim Gonçalves da Silva trabalhou com os irmãos Baganha - António e Joaquim –, que acabou por influenciar, que viriam a tornar-se mestres estucadores famosos. Com eles concebeu grande número de obras de interiores. Colaborou, ainda, com a Sociedade de Entalhadores Marques Sucessores, tendo sido seus ajudantes José de Oliveira Tavares e Baía de Campos.

A sua atividade artística foi desenvolvida em ateliês emprestados, como a oficina de escultura religiosa na rua da Fábrica, no Porto. Contudo, a sua morada profissional, autónoma e mais duradoura, situou-se na rua Arménia, no Porto.

Da sua obra escultórica destacam-se as esculturas funerárias representativas d’ “A Dor”, uma no jazigo de João Pinho e Costa no cemitério de Santiago de Riba Ul (c.1910), em Oliveira de Azeméis, outra no jazigo perpétuo de José Pinto Mourão, no cemitério de Mafamude, em Vila Nova de Gaia. Esta última apresenta a assinatura do autor – “fez Joaquim Gonçalves”; e existe, muito possivelmente, uma terceira escultura, esta no jazigo da família Santos Drumont (atribuído por norma aos irmãos António e José Teixeira Lopes), no Cemitério de Agramonte, no Porto, datável de 1911. De acordo com a investigadora Susana Moncóvio, o autor será o mesmo: Joaquim Gonçalves da Silva.
Com a mesma autoria também se conhecem: o friso com alegorias em baixo-relevo no Salão Luís XV da Ourivesaria Reis & Filhos (renovada em 1905), situada na esquina das ruas de Santa Catarina e 31 de Janeiro, no Porto; os elementos escultóricos figurativos da escadaria do edifício sede da União Eléctrica do Porto (antiga casa do proprietário da Padaria Bijou e depois da empresa EDP); o estudo a lápis “Duas mulheres”; o retrato de Maria Rosa Gonçalves (propriedade da família Valente de Vila Nova de Gaia); e o retrato pintado de José Teixeira Lopes (apresentado na Exposição de Belas Artes do Instituto de Estudos e Conferências que teve lugar na Santa Casa da Misericórdia do Porto, em 1901).

Estudo para o monumento às Guerras Peninsulares, leiloeira Palácio do Correio Velho / Study for the monument to the Peninsular Wars, auction house Palacio do Correio VelhoJoaquim Gonçalves da Silva contribuiu com dois estudos de barro cozido para a venda em benefício da Associação das Creches de Santa Marinha e, juntamente com o arquiteto Eduardo Alves, apresentou-se no concurso para o Monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares (Porto, 1910).

Joaquim Gonçalves da Silva morreu a 16 de dezembro de 1912, deixando oito órfãos. No dia seguinte foi a sepultar no cemitério de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. A causa da sua morte permanece incerta, discutindo-se ainda se foi vítima de angina-pectoris ou de pneumonia ou se terá cometido suicídio.

Postumamente, e em auxílio da sua família, foi publicado o álbum Romagens (1913), com direção literária de Oliveira Passos e contributos de Alberto Pimentel, Sampaio Bruno e José Vitorino Ribeiro, entre outros. Houve lugar também a um sarau de beneficência, a uma exposição dos pintores gaienses Diogo de Macedo e Joaquim Lopes e a uma exposição-venda na Galeria de Retratos da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Esta mostra, que foi organizada por João Pinto e Costa, Manuel Pinto de Macedo, Feliciano Valente, Cândido da Cunha, Júlio Pina, Paulino Gonçalves, Manuel de Moura e Oliveira Passos, reuniu artistas do Porto e de Lisboa e obras do escultor falecido. No dia de abertura, a 10 de junho de 1914, foram vendidas 40 peças. Durante a sessão de encerramento, um mês mais tarde, foi promovida a adjudicação do espólio remanescente. O catálogo contou com fotografias de Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931).

O artista está representado na Casa-museu Teixeira Lopes, onde se guardam, a título de exemplo, uma cena do ciclo da Ressurreição, com a qual concorreu ao Prémio Barão Castelo de Paiva de 1897 (galardão destinado a quadros de temas bíblicos e instituído por António da Costa Paiva) e as provas de exame do 3.º ano de Pintura - uma figura de estudo pintada pelo modelo vivo e um esboceto de composição, cópia da tela Céfalo e Prócris de Marques de Oliveira – expostos na 7.ª Exposição de Trabalhos Escolares (1896), da APBA.
(Universidade Digital / Gestão de Documentação e Informação, 2017)

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