Venceslau de Lima Doutor em Filosofia, professor, geólogo, político e viticultor Retrato da autoria de João António Correia |
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Venceslau de Sousa Pereira de Lima, filho de José Joaquim Pereira de Lima, capitalista e comendador, e de D. Isabel Amália Tallone de Sousa Guimarães, nasceu no Porto a 15 de novembro de 1858.
Depois de realizados os estudos secundários no estrangeiro, ingressou na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, onde se diplomou com a defesa da dissertação "Lithologia: carvões naturaes. Monographia da família dos carbonidos. 1.ª parte – Estatística dos carvões" (Porto, 1882) e doutorou com a tese "Theses de Philosofia Natural que sob a presidência do Illustrissimo e Excellentissimo senhor Doutor António dos Sanctos Viegas se propõe defender na Universidade de Coimbra no dia 26 de Novembro de 1882 para obter o grau de doutor" (Coimbra, 1882).
Em 1882 concorreu ao lugar de lente substituto da Secção de Filosofia da Academia Politécnica do Porto, apresentando a dissertação "Função Chlorophylina. Exposição e crítica das theorias que a ella se referem", sendo nomeado, no ano seguinte, lente da 7.ª cadeira – Zoologia, Mineralogia e Geologia Veterinária. Em 1885, depois de o Parlamento ter aprovado a sua proposta de reforma da Academia Politécnica, lecionou a 9.ª cadeira – Mineralogia, Paleontologia, Geologia. Durante os períodos em que se ausentou da Academia Politécnica do Porto, esta cadeira era regida pelo colega Amândio Gonçalves.
Em 1886 foi incumbido de estudar a flora fóssil portuguesa e passou a integrar a Secção dos Trabalhos Geológicos do Ministério das Obras Públicas como engenheiro subalterno de 2.ª classe. Em 1908, assumiu o cargo de presidente da Comissão dos Serviços Geológicos. A partir de 1910 exerceu funções como Engenheiro Chefe de 2.ª classe do Quadro de Minas. Estagiou na Escola Superior de Minas de Paris a fim de aprofundar os seus conhecimentos.
Venceslau de Lima foi, porventura, o maior mestre de Geologia da Academia Politécnica do Porto. Estudioso de Paleobotânica, sobretudo do Carbónico e do Pérmico Português, foi em grande medida responsável pela emancipação das disciplinas de Mineralogia, Paleontologia e Geologia.
O professor e cientista também se afirmou como um homem de cultura e de ação pública. Foi um aclamado orador, político interventivo e curioso viticultor. Colaborador da "Enciclopédia Portuguesa", possuía uma vasta biblioteca.
Entre 1882 e 1897 foi deputado em várias legislaturas, eleito por diferentes círculos eleitorais. Foi vogal do Conselho Superior de Instrução Pública (1884), Ministro dos Negócios Estrangeiros (1903-1904, 1906, 1908), presidente do Conselho de Ministros (1909), pasta que acumulou com a de Ministro do Reino. Presidiu à Câmara Municipal do Porto (1896-1898 e 1900), ao Governo Civil dos distritos de Vila Real (1884-1885), de Coimbra (1891-1892) e do Porto (1901-1903), foi Par do Reino (1894), Par Vitalício da Câmara dos Pares (1901) e membro do Conselho Real (1909).
Na Câmara dos Deputados defendeu a importância do ensino profissional para o fomento da indústria (1883) e apresentou um projeto de lei, a 18 de abril de 1883, relativo à reforma do ensino da Mineralogia, Geologia, Metalurgia e Arte das Minas na Academia Politécnica do Porto. Este projeto foi aprovado e adquiriu força de lei.
Venceslau de Lima foi diretor da Escola Médico-cirúrgica do Porto e da Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto, S.A.R.L. entre 1887 e 1909, presidente da Comissão Anti Filoxérica do Norte, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto e Vice-presidente da Comissão Executiva da Assistência Nacional aos Tuberculosos. Integrou a Comissão do Patronato Portuense e dirigiu diversas instituições de beneficência.
Distinguido por prestigiadas instituições nacionais e estrangeiras, Venceslau de Lima foi sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa e do Instituto de Coimbra, membro da Sociedade Geológica de França e sócio honorário da Associação Comercial do Porto. Foram-lhe atribuídas a Grã-cruz cruz da Ordem da Torre e Espada e as comendas das ordens de S. Tiago, de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, da Legião de Honra de França, de Carlos III e de Isabel a Católica, de Espanha, de S. Lázaro e S. Maurício, de Itália, da Vitória de Inglaterra e de Leopoldo, da Bélgica.
Em 1908, depois do regicídio, tornou-se um dos conselheiros mais próximos de D. Manuel II. Em finais do ano seguinte abandonou o governo e passou a exercer funções como conselheiro efetivo do Estado. Na sequência da implantação da República, abandonou a Academia Politécnica do Porto, assim como a vida política, passando a dedicar-se à investigação, com o objetivo de produzir um estudo sobre os terrenos carboníferos portugueses, que ficou por concluir.
Casado desde 1879 com D. Antónia Adelaide Ferreira, filha de António Bernardo Ferreira (III) e neta da sua homónima D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1907), a famosa "D. Antónia" ou simplesmente "Ferreirinha", Venceslau de Lima viveu os últimos anos de vida no exílio, na cidade de Pau, em França, e morreu em Lisboa a 24 de dezembro de 1919.
Universidade Digital / Gestão de Informação, 2012. Revisão científica de Jorge Fernandes Alves (FLUP)