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Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

Júlio Pomar

Fotografia de Júlio Pomar Júlio Pomar
1926-2018
Pintor



Escola António ArroioJúlio Pomar nasceu em Lisboa, nas Janelas Verdes, no ano de 1926.

Pintou desde criança. Desde o dia em que recebeu uma caixa de aguarelas oferecida pelo tio Bernardino. Com oito anos de idade, um escultor das suas relações familiares vendo nele um futuro talento, fê-lo frequentar, como aluno livre, as aulas de Desenho da Escola Industrial António Arroio (Arte Aplicada). Na adolescência, estudou nesta escola, até 1941, e nela preparou o ingresso na Escola de Belas Artes de Lisboa, que frequentou entre 1942 e 1944.

Em 1942 realizou a primeira exposição no atelier em que trabalhava. Nessa altura, foi convidado por Almada Negreiros a participar na VII Exposição de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional/Secretariado Nacional de Informação (SPN-SNI).

Em 1944 transferiu-se para a Escola de Belas Artes do Porto. Nesta cidade, iniciou a colaboração com os jornais A Tarde, Seara Nova, Vértice, Mundo Literário e Horizonte e participou no movimento artístico "Os Convencidos da Morte", assim denominado por oposição aos célebres "Os Vencidos da Vida", grupo marcante na história da literatura portuguesa de finais de Oitocentos.

No período pós II Guerra Mundial, Júlio Pomar foi influenciado por escritores neo-realistas como Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes e por artistas plásticos como o pintor brasileiro Cândido Torquato Portinari ou os muralistas mexicanos Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros, que o inspiraram a usar a arte como forma de intervenção sócio-política.

Gadanheiro, Júlio Pomar, 1945Pomar tornou-se, a partir de então, num forte opositor ao regime fascista. Integrou o Movimento de Unidade Democrática (MUD) e participou nas lutas estudantis, o que lhe custou a expulsão da ESBAP. O ativismo político também se refletiu no seu trabalho. Na pintura, em obras como O Gadanheiro, exposta em 1945 na Sociedade Nacional de Belas Artes, nos textos publicados em jornais, nos quais advogava uma estética neo-realista, e na promoção da 1ª Exposição da Primavera do Ateneu Comercial do Porto, em 1946.
Em 1947 organizou a 1.ª exposição individual de desenhos, no Porto. Entretanto, o mural que executara para o Cinema Batalha foi arruinado pela PIDE.
Logo de seguida deixou o Porto, regressando à capital. Aí foi encarcerado durante quatro meses e viu o seu quadro Resistência ser confiscado na II Exposição Geral de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1947.

Almoço do Trolha, Júlio Pomar (1946-1950)No âmbito de um exposição individual realizada na SNBA em 1950, Pomar exibiu marcantes obras, como O Almoço do Trolha, Menina com um Gato Morto, Varina Comendo Melancia ou O Cabouqueiro, que denotam influências neo-realistas, embora prenunciem uma nova pintura progressivamente despojada da componente política.

Nesse ano viajou até Espanha, país onde estudou a obra do pintor Goya, que mais tarde o influenciou em telas como Maria da Fonte e Cegos de Madrid, de 1957.

Em 1952, na Galeria de Março, expôs desenhos, aguarelas, guaches e cerâmicas.
Seguidamente, executou retratos de intelectuais como Mário Dionísio e Maria Lamas e, em 1953, associou-se ao Ciclo de Arroz, uma experiência coletiva partilhada com Alves Redol, Rogério Ribeiro, Cipriano Dourado e António Alfredo, artistas que procuravam, nos arrozais ribatejanos, gente trabalhadora para inspiração das suas obras.

Em 1956 fundou a cooperativa Gravura, de produção e divulgação de obras gráficas, com artistas como José Júlio e Rogério Ribeiro, na qual se manteve como o grande animador até 1963.
A partir desta época, o movimento passou a ser a principal marca da sua pintura, patente em obras como Pescadores.

D. Quixote, de Júlio PomarEm 1960 fez trinta pinturas, a preto e branco e de pequenas proporções, para ilustrar a versão de D. Quixote, de Aquilino Ribeiro, tema que usou noutras pinturas e esculturas. Nesse mesmo ano iniciou a série Tauromaquias.

A partir de 1963 radicou-se muitos anos em Paris. O campo de corridas de cavalos de Auteuil, nas proximidades do seu atelier parisiense, motivou a série Les Courses exibida na Galeria Lacloche, onde havia exposto Tauromachies, em 1964.

Influenciado pelo movimento contestatário do Maio de 68, realizou uma série dedicada ao tema. Nesta época deixou a pintura a óleo para passar a usar o acrílico. Até 1975, Pomar centrou-se, essencialmente, no retrato, usando a cor saturada e geometrismo.
Pomar viveu em Lisboa o período revolucionário de 1974. A 10 de Junho deste ano participou, com outros artistas, na execução de um painel comemorativo da queda do regime.
Em 1983, apresentou a série Os Tigres, na Galeria 111, em Lisboa. Em 1984, decorou a estação do Alto dos Moinhos, do metro de Lisboa, com quatro poetas associados à cidade (Camões, Bocage, Fernando Pessoa e Almada Negreiros).

Os índios Kuarup, de Júlio Pomar (1988)Em 1988, permaneceu dois meses em Mato Grosso, no Brasil, para assistir às filmagens de "Kuarup", de Ruy Guerra. A convivência com os índios do Alto Xingu, durante essa estadia, motivou uma nova série de obras.

Nos anos 90 expôs em Espanha, na França, na Bélgica, no Brasil, na China e em Portugal, onde, entre outros trabalhos, apresentou, em 1997, as obras executadas entre 1958-1960, para o D. Quixote de Aquilino Ribeiro, uma antologia dos realizados trabalhos até 1963, e a obra D. Quixote e os Carneiros.
Nos anos seguintes continuou a expor, podendo destacar-se as exposições antológicas, retrospetivas ou outras, no Sintra Museu de Arte, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, e no Museu do Neo-realismo, em Vila Franca de Xira.

Em 2004 instituiu uma fundação com o seu nome, inaugurada, mais tarde, em 2013 pela Câmara Municipal de Lisboa, no número 7 da rua do Vale, com projeto arquitectónico de reabilitação de Siza Vieira.

Desenho a tinta da china, de Júlio PomarJúlio Pomar é um dos artistas nacionais mais prestigiados internacionalmente, autor de uma obra diversificada, composta por desenhos, pinturas, ilustrações, colagens, assemblages, cerâmicas, tapeçarias, esculturas e cenografias (estas últimas para três espetáculos de Graça Lobo, baseados em obras de soror Mariana Alcoforado, James Joyce e Miguel Esteves Cardoso). A sua obra, construída ao longo de cinquenta anos de trabalho, recebeu influências das muitas viagens que fez e de artistas que admirou, como Goya, Matisse, Ingres e os muralistas mexicanos.

Ao contrário de muitos dos seus pares, não era licenciado e não seguiu uma carreira como professor universitário, nem integrou qualquer organismo de poder. Viveu entre Lisboa e Paris.
Deste homem independente, diz-se que era generoso, avesso à mediocridade e dotado de sentido de humor.

Júlio Pomar morreu a 22 de maio de 2018, em Lisboa, aos 92 anos de idade.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)

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