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Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

António Cruz

Fotografia de António Cruz António Cruz
1907-1983
Pintor e escultor

"António Cruz (...) é sem contestação possível o maior aguarelista português dos tempos modernos. Tirou a aguarela da banalidade
para que a tinham arrastado Roque Gameiro e os aguarelistas portugueses. Deu-lhe grandeza, ressonância sinfónica; levou-a até
atingir o valor de uma alta expressão sintética e afastou-a da superficialidade habitual. (...)"

(Abel Salazar em entrevista a Manuel Lavrador in Sol)


António Amadeu Conceição Cruz nasceu em 9 de Março de 1907, na Rua Nossa Senhora de Fátima, na freguesia portuense de Cedofeita. Era filho de Avelino da Conceição Cruz e de Luísa da Silva.
Desde cedo manifestou vocação para o desenho. Este artista, na idade adulta, viria a ser considerado o renovador da aguarela portuguesa. As suas paisagens marcantes são dominadas por uma luz que tanto oculta como revela as formas e grande parte delas imortaliza a cidade que o viu nascer, viver e morrer.
Depois da primária concluída, Cruz enveredou pelos estudos industriais frequentando o curso de Condutor de Máquinas (1920), na Escola Infante D. Henrique, Porto, para satisfazer a família.
Mas a arte já o seduzia. Muito mais do que as Noções de Mecânica Geral ou o Desenho de Máquinas. E modelo também já o tinha: o Porto e os seus recantos. Que se nota desde logo nas primeiras obras que produziu, nas quais capta pormenores da paisagem do burgo e seus arrabaldes, de lugares como Ramalde, o Campo Alegre ou Leça do Balio.
No final dos anos vinte (1928) cumpriu o serviço militar na Companhia de Torpedos em Paço de Arcos.
Logo em seguida começou a realizar alguns trabalhos publicitários, ilustrou livros escolares e expôs nas Termas de Vizela e no Casino da Póvoa. Se a primeira destas exposições não obteve sucesso, a segunda teve um resultado surpreendente: impressionado pelo que tinha visto, um turista alemão comprou todas as obras nela expostas.
Em 1930 percebeu que a Arte era, em definitivo, o seu mundo. E que a devia educar.

Casario da Sé do Porto (1945)Para tal matriculou-se na Escola de Belas Artes do Porto, sem o conhecimento dos pais. Foi aluno de Acácio Lino (1878-1956), de Joaquim Lopes (1886-1956) e de Dordio Gomes (1890-1976) em Pintura, e de Pinto do Couto (1888-1945) e Barata Feyo (1898-1990), em Escultura. Da vida académica fica ainda a participação num grupo de jovens artistas, o "+ Além", com o qual virá a expor.
Nos dois anos seguintes, porque lhe faltavam condições e os pais continuavam sem saber o que o filho fazia, concorre a pensionista do Legado Ventura Terra, para prosseguir os seus estudos. Para isso era necessário um atestado de pobreza, que consegue obter da Junta de Freguesia de Ramalde.
Em 1932, o então estudante da Escola de Belas Artes recebe o prémio de desenho "José Rodrigues Júnior". A notícia foi publicitada nos jornais e o seu segredo posto a descoberto. No entanto, se o futuro aguarelista temia o desagrado dos pais, isso não aconteceu: é que a distinção era muito honrosa, amenizando a tensão familiar.
No ano de 1933 dedicou-se intensamente ao desenho. Fazia-o nos lugares mais animados da cidade: nos cafés, que naqueles tempos eram apetecidos locais de convívio. No café Vitória, aos Aliados, entretanto desaparecido, retratou fortuitamente um habitué que era um cliente especial. Este, em troca do retrato, deu-lhe 50 escudos e um cartão de recomendação para o Dr. Alfredo Magalhães, seu futuro mecenas, que lhe viria a conseguir um atelier num lugar especial: na Maternidade de Júlio Dinis.
Abalado pela morte do pai, em 1934, e lutando com a falta de dinheiro, viu-se obrigado a interromper os estudos, fixando-se temporariamente na Ponte da Barca, onde passou todo o tempo a pintar. E um invulgar gesto de solidariedade ocorreu: setenta e dois alunos da Escola de Belas Artes do Porto, entre os quais se destacam Dominguez Alvarez, Guilherme Camarinha, Augusto Gomes, Laura Costa, Ventura Porfírio e Agostinho Ricca, solicitou ajuda, num abaixo-assinado dirigido à Direção da Escola, para que António Cruz continuasse os estudos. Esse mesmo grupo de alunos, em 1935, endereçou o mesmo pedido à Câmara Municipal do Porto, que lhe concedeu uma bolsa mensal, de "trezentos escudos", depois suportada com o apoio da Junta de Freguesia do Bonfim.
Em 1937, à boleia num cargueiro, partiu para a Grã-Bretanha, onde visitou museus e pintou. De regresso ao Porto, terminou o Curso de Pintura da Escola de Belas Artes, ainda com bolsa de estudo da Câmara Municipal do Porto.
Amigos e admiradores, como o Dr. Alfredo Magalhães, Joaquim Lopes, Aarão de Lacerda, o Dr. Melo Alvim, o Engº Brito e Cunha e D. Isabel Guerra Junqueiro, organizaram, em 1939, a sua primeira exposição individual, no Salão Silva Porto. Em Dezembro desse ano, a exposição foi levada para a Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, sendo inaugurada pelo Chefe de Estado e pelo Ministro da Educação Nacional. Enquanto ela decorreu, o artista foi alvo de várias homenagens.
Além do Curso de Pintura, António Cruz frequentou o de Escultura da ESBAP, em 1942, alcançando a 1ª medalha no curso com a tese "Uma estátua equestre a D. Afonso Henriques". Em 1945, apresentou a prova de final de curso com a obra "Adoração dos Pastores", obtendo a classificação de 18 valores.
Em 1944 foi-lhe concedida uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, para aperfeiçoamento dos estudos de aguarela, ameaçada por rumores que o davam como comunista, mas salva pela pronta intervenção de altas figuras, como o Prof. Reynaldo dos Santos.

Igreja de Santo Ildefonso, PortoEm 1954 casou com Ofélia Marques da Cunha na Igreja de Santo Ildefonso, no Porto. Quatro anos depois começou a lecionar na escola de Artes Decorativas de Soares dos Reis, na mesma cidade. Em 1962, concorreu para provimento de um lugar de professor na Escola de Belas Artes do Porto e, no ano seguinte, é nomeado professor agregado de Desenho, depois de aprovado em mérito absoluto no concurso público. E em 1964 insiste em concluir os estudos de Escultura na mesma Escola de Belas Artes; contudo, não chega a apresentar a obra de tese nesta área.

Aguarela de António CruzEm 1982, os artistas Armando Alves e José Rodrigues e o editor José da Cruz Santos organizam, na Casa do Infante, uma segunda exposição individual de obras de António Cruz e um serão de homenagem ao artista (25 de Novembro a 12 de Dezembro). Nessa ocasião foi lançado o álbum O Pintor e a Cidade, com a reprodução de aguarelas do artista, acompanhadas de um texto da autoria de Agustina Bessa-Luís, e o jornal "O Comércio do Porto" lança um concurso subordinado ao tema "O Pintor e a Cidade".
Esta popular exposição gerou, como nunca até então, um grande assédio por parte dos jornalistas para que o artista concedesse entrevistas, prática a que era avesso. Logo em seguida participa na exposição "Os Anos 40 na Arte Portuguesa", em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 1983, realiza a última mostra da sua arte. Uma exposição individual na Galeria Diagonal, em Cascais, entre 15 de Abril e 5 de Maio. Morreu no Porto, em 29 de Agosto desse ano.
Durante toda a sua carreira participou num grande número de exposições coletivas, em diversas galerias e instituições, nos mais variados pontos do país, e recebeu inúmeras distinções pelas suas pinturas e esculturas. Em 1956 fora figura principal no filme O Pintor e a Cidade, de Manoel de Oliveira, apresentado no Festival de Veneza.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)

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