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Memória U.Porto

Docentes e Estudantes da Escola Médico-Cirúrgica do Porto

Laurinda de Moraes Sarmento

Fotografia de Laurinda de Moraes Sarmento / Photo of Laurinda de Moraes Sarmento Laurinda de Moraes Sarmento
1867 – [?]
Médica, 1.ª mulher matriculada na Escola Médico-Cirúrgica do Porto

Laurinda de Moraes Sarmento, filha primogénita de Anselmo Evaristo de Moraes Sarmento, negociante e natural de Aveiro, e de D. Rita de Cássia Oliveira Moraes, natural do Porto, moradores na Rua das Oliveiras, freguesia da Vitória, nasceu no dia 28 de outubro de 1867 e foi batizada pelo Padre Coadjutor Nicolau José Ferreira a 21 de novembro, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória. Teve como padrinhos António Joaquim de Moraes Sarmento, Escrivão da Relação do Porto, e D. Margarida Emília da Costa Oliveira, viúva, sua avó materna.

Laurinda passou a infância e a juventude no Porto. Para além de um irmão, teve três irmãs mais novas, próximas de idade entre si: Aurélia, Guilhermina e Rita, nascidas em 1869, 1870 e 1872, respetivamente. Enquanto a Mãe se encarregava da educação dos cinco filhos, o Pai exercia a atividade de negociante com a Tipografia "Imprensa Portuguesa" e a de jornalista, dirigindo os periódicos "Gazeta Literária do Porto" e "A Actualidade", assim como, mais tarde, a "A Ideia Nova – diário democrático".

A sua formação moral e ética foi fortemente influenciada pelo espírito liberal do Pai, descendente dos Moraes de Aveiro, acossados durante o reinado absolutista de D. Miguel. Esta influência familiar também terá contribuído para realçar a importância da educação como fator de promoção pessoal e social.

Fotografia das irmãs Moraes Sarmento com o pai Anselmo Evaristo de Moraes Sarmento / Photo of sisters Moraes Sarmento with their father Anselmo Evaristo de Moraes SarmentoPara além dos ideais liberais defendidos pela família, Laurinda também recebeu a influência de pessoas que se relacionavam com o Pai por razões profissionais e de amizade. Entre estas contam-se figuras de prestígio como Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Teófilo Braga. A casa dos Moraes Sarmento era um espaço privilegiado para a proliferação dos ideais liberais e das ideias que então grassavam, enquanto no País se procurava construir uma cultura e uma mentalidade democráticas.

Não é alheio a esse ambiente familiar o facto, inédito na altura, de os cinco irmãos terem obtido diplomas no ensino superior. Tanto Laurinda como as irmãs diplomaram-se no Porto ainda antes da viragem do século XIX.

Laurinda, com 18 anos de idade, e Aurélia, mais nova dois anos, frequentaram na Academia Politécnica do Porto as cadeiras de Física Geral, Química Inorgânica Geral e Química Orgânica Geral e Biológica, disciplinas obrigatórias para o acesso à Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Matricularam-se nesta Escola depois de aprovadas nos exames de Botânica e de Zoologia, em julho de 1886. Quando teve início o novo ano letivo, Laurinda de Moraes Sarmento foi a primeira senhora a matricular-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, iniciando um percurso académico que se estenderia por cinco anos.

No penúltimo ano do curso, Laurinda foi admitida às cadeiras de Patologia e Terapêutica Externas, Medicina Operatória ou Operações e Patologia Interna, concluindo a componente curricular durante o ano letivo de 1890-1891. Na disciplina de Obstetrícia ou Partos obteve a distinção de "aprovada com louvor", que partilhou com a sua irmã Aurélia. A 9 de novembro de 1891, com 24 anos de idade, Laurinda defendeu o "Ato Grande" na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, logo depois da irmã.

Capa digitalizada da dissertação inaugural de Laurinda de Moraes Sarmento / Digitalized cover of the inaugural dissertation of Laurinda de Moraes SarmentoA Dissertação, cuja defesa foi presidida pelo Doutor José Carlos Lopes e teve como arguentes os professores Pedro Augusto Dias, Ilídio Aires Pereira do Vale, António Joaquim de Moraes Caldas e António de Azevedo Maia, apresentava o título Breves Considerações sobre a Hygiene do Vestuario Feminino.

Dedicada em primeiro lugar aos pais e irmãos, a Dissertação é dedicada logo a seguir aos tios-avós, Venância Rosalina de Moraes Lucena e Jerónimo de Moraes Sarmento, "Antigos perseguidos liberaes, que tanto nos cárceres como no desterro affrontoso affirmaram a grandeza da sua fé politica", como está escrito na página com a dedicatória. Por fim, uma dedicatória a Teófilo Braga e mulher, D. Maria do Carmo Xavier Braga, e à memória dos seus filhos, já falecidos, assim como à memória do Dr. António Vitorino da Mota.

O corpo docente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto não fica esquecido – Doutores João Pereira Dias Lebre, Agostinho António do Souto, Eduardo Pereira Pimenta, A. H. d'Almeida Brandão, Ricardo d'Almeida Jorge e Roberto Belarmino do Rosário Frias –, assim como não o ficam também os professores da Academia Politécnica - Aarão Ferreira de Lacerda, António Joaquim Ferreira da Silva, Conde de Campo Belo, José Diogo Arroio e Manuel Amândio Gonçalves – e os do Ensino Secundário, entre os quais se destacam figuras como Flórido Teles de Menezes Vasconcelos e José Vitorino Ribeiro. A dissertação foi publicada no final de 1991 pela Imprensa Portuguesa.

Uma vez terminado o curso, Laurinda e Aurélia abriram um consultório médico privado no n.º 579 da mesma artéria onde habitava a família, a Rua do Almada, dedicado a doenças de senhoras e crianças e com serviço de partos a qualquer hora. Porém, Laurinda abandonou a prática clínica poucos meses depois, quando casou com o antigo colega de curso, o Dr. Abílio da Silva Carvalho, do qual teve duas filhas, Laurinda e Maria, entre 1893 e 1894.

Pouco depois, numa tentativa de reingresso na carreira clínica, Laurinda apresentou-se a concurso para o lugar de clínica auxiliar no Hospital Geral de Santo António, prestando provas em simultâneo com a irmã Aurélia e com Maria Paes Moreira. Foi esta a nomeada, apesar da reclamação pública apresentada pelas irmãs Moraes Sarmento, que apontaram diversas irregularidades ao processo de seleção, nomeadamente ao decurso das provas práticas, pondo mesmo em causa a conduta da antiga colega de curso durante a realização do exercício teórico. Porém, o processo judicial movido para impugnar a nomeação foi indeferido.

Não dispomos de fontes que nos permitam reconstruir o percurso de Laurinda de Moraes Sarmento durante as primeiras décadas do século XX.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2011)

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