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Memória U.Porto

Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto

António Carneiro

Auto-retrato de António Carneiro António Carneiro
1872-1930
Pintor, ilustrador, poeta e professor

"António Carneiro foi um caso à parte do nosso meio plástico. Nasceu poeta e foi pintor".
(Diogo de Macedo)



Tríptico: A Vida de António Carneiro, 1899-1901António Teixeira Carneiro Júnior nasceu a 16 de Setembro de 1872 em S. Gonçalo de Amarante. Era filho de Francisca Rosa de Jesus, costureira, exposta da Roda, de S. Gonçalo, e de António Teixeira Carneiro.
Teve uma infância difícil. Aos sete anos foi abandonado pelo pai, ficando, pouco depois, órfão de mãe. Sozinho e desamparado, em 1879 foi encaminhado para o internato no Asilo do Barão de Nova Sintra, no Porto. Nesta instituição pertencente à secular Santa Casa da Misericórdia do Porto fez o ensino primário e começou a desenhar, copiando ilustrações de textos religiosos e de periódicos.

O seu talento foi notado de imediato. Por recomendação do professor Adrião Augusto de Sousa Carneiro e do Padre José Marques Dias, bacharel de Direito e diretor daquele estabelecimento, ingressou, em 1884, na Academia Portuense de Belas Artes, com o apoio da Santa Casa.
Na Academia, o "Mongezinho da Nova Sintra", como era conhecido, fez o curso de Desenho Histórico, entre 1884 e 1890, na qual foi discípulo do mestre Marques de Oliveira.
Nesse ano de 1890 deixou o asilo e começou a frequentar o curso de Escultura, que veio a abandonar depois da morte de Soares dos Reis, em 1889. Deste curso transferiu-se para o de Pintura, onde recebeu ensinamentos de João António Correia.

Filhos de António Carneiro, 1912 (arquivo COAC)As letras ainda o inspiravam. Como o inspirariam sempre. Em 1891 editou uma plaquette de poemas. Dois anos depois, em 1893, casou com Rosa Carneiro. Desta união nasceram três filhos: Cláudio (1895-1963), Maria Josefina (1898-1925) e Carlos (1900-1971). O primeiro dos seus descendentes veio a notabilizar-se como músico e compositor, o segundo morreu ainda jovem, vítima de tuberculose, e o mais novo foi pintor.

Em 1895 reencontrou-se com o pai, recém-chegado do Brasil, com quem viajou até Amarante, cidade onde conheceu e fez amizade com o poeta Teixeira de Pascoaes, seu conterrâneo. No ano seguinte terminou o curso de Pintura de História, com a classificação final de dezoito valores.
Pouco depois, em 1897 partiu para Paris após a obtenção de uma bolsa patrocinada pelo Marquês de Praia e Monforte. Na capital francesa instalou-se com a esposa no Boulevard Arago e frequentou a Academia Julien, na qual foi aluno de Jean-Paul Laurens e de Benjamin Constant.

Ex-libris da Águia de António CarneiroQuando regressou ao Porto foi convidado a lecionar na Academia de Belas Artes do Porto, em 1911, sendo investido na qualidade de Professor de Nomeação Definitiva, responsável pela Cadeira de Desenho de Figura. Corria o ano de 1918.

A par das suas atividades como pintor, professor e poeta, dirigiu a revista portuense Geração Nova e integrou a sociedade Renascença Portuguesa, instituída no Porto em 1911. Para este movimento, promotor da cultura nacional, desenhou o ex-libris, usado em todas as suas edições, nomeadamente na revista A Águia, publicação que dirigiu a partir de 1912 com Teixeira de Pascoaes, sendo o responsável pela coordenação literária e pelas ilustrações.

Durante a sua carreira profissional fez diversas viagens. No Verão de 1899 realizou uma visita de estudo a Itália; em 1912, na companhia da família, voltou a Paris; entre 1914 e 1915 fixou-se no Brasil, ficando hospedado na residência do casal de escritores Júlia e Filinto Lopes de Almeida. Ao Brasil regressaria ainda em 1929.

Capela da Boa Nova, António Carneiro, 1911Em meados do século XX era frequentador das praias de Leça da Palmeira, em Matosinhos, e da Figueira da Foz, e também podia ser visto nas Termas de Melgaço, lugares que retratou exemplarmente em muitas das suas paisagens.

Nos anos que decorreram entre 1893 e 1929, expôs, individual ou coletivamente, em Portugal (no Centro Artístico Portuense, no Ateneu Comercial do Porto, na Santa Casa da Misericórdia do Porto, no Grémio Artístico de Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, na Photografia Guedes e Photografia União, nas sedes da Ilustração Portuguesa e da Renascença, etc.), no Brasil (na Galeria Jorge no Rio de Janeiro, no Prédio Glória em S. Paulo e na Associação Comercial do Panamá em Curitiba) e participou nas exposições universais de Paris (1900), de Saint Louis (1904) e na Exposição Internacional de Barcelona, de 1907.

Este pintor também aplicou a sua arte à ilustração de livros de autores como António Correia de Oliveira (Tentações de São Frei Gil e O Pinheiro Exilado, em 1907, A Minha Terra, em 1915, outras obras em 1916, Virtudes e Heroísmos Lusíadas com Estefânia Cabreira, em 1926, e Canções de Amor, em 1929), João de Deus (Poesias Religiosas, em 1912) e o Visconde de Vila Moura (Doentes da Beleza, em 1913).

Teixeira de Pascoaes por António CarneiroFoi homenageado em Amarante com Teixeira de Pascoaes, em 1924, e no Palácio da Bolsa, no centro histórico do Porto, em 1925, ano em que inaugurou o seu atelier na Rua Barros Lima (atual Rua António Carneiro), na zona oriental da cidade, e lhe morreu a filha Josefina, um trágico acontecimento que teve fortes repercussões na sua obra.

Em 1929 foi nomeado diretor da Academia de Belas Artes do Porto, cargo que não veio a exercer.

Guilhermina Suggia, sanguínea de António Carneiro, 1923A 31 de Março de 1930 morreu no Porto o pintor, poeta, professor António Carneiro, consagrado como o precursor do Simbolismo, uma corrente artística sem continuadores em Portugal. Da sua vasta e singular obra são célebres os retratos de grande densidade psicológica, de companheiros, intelectuais e artistas, como Teixeira de Pascoaes, Correia de Oliveira, Antero de Quental ou Guilhermina Suggia, os múltiplos auto-retratos, realizados em diversos materiais e em diferentes fases da vida, as originais paisagens e as decorações produzidas, por exemplo, para a sala de leitura do Palácio da Bolsa do Porto, sede da Associação Comercial do Porto (Eco, Mensageiro da Linguagem Universal).

Poucos anos depois de morrer, em 1936, foi publicada a sua obra poética Solilóquios: sonetos póstumos, com introdução de Júlio Brandão.

António Carneiro está atualmente representado no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante; na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão; no Museu Nacional de Soares dos Reis e na Casa-Oficina António Carneiro, ambos no Porto; na Quinta de Santiago, em Matosinhos; na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia; no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, da Fundação Calouste Gulbenkian e no Museu do Chiado (antigo Museu Nacional de Arte Contemporânea), em Lisboa, e em coleções particulares, como a do Dr. José Manuel Pina Cabral e Nuno Carneiro.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)

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