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Provas de Doutoramento em Ciências da Educação - Elsa Maria Guedes Teixeira

18 de outubro | 14h30 | Auditório 1

Provas de doutoramento no ramo de Ciências da Educação, requeridas pela Mestre Elsa Maria Guedes Teixeira.

Apreciação da tese intitulada: "Taking their life into their own hands: intersecting inequality of condition dimensions in poor women’s idiosyncratic social and educational paths and their strategies to cope with poverty"

Júri:
  • Doutora Maria Amélia da Costa Lopes
  • Doutor Pedro António da Silva Abrantes
  • Doutora Kathleen Lynch
  • Doutora Helena Costa Gomes de Araújo - orientadora
  • Doutora Carla Sofia Marques da Silva
  • Doutor Henrique Malheiro Vaz

A sessão é aberta a todos os interessados.



RESUMO

Nas últimas décadas, as perceções sobre a proteção social mudaram e as/os beneficiárias/os têm vindo a ser acusadas/os pela comunicação social, políticas/os, e pelo público em geral, de dependência, preguiça e até fraude. Esta perceção esteve também na base das políticas sociais ativas, criadas no sentido de reforçar a responsabilidade social e a ‘autonomia’. A presente tese procurou desafiar alguns dos estereótipos, sobretudo os relacionados com as mulheres pobres, demonstrando a singularidade dos seus percursos, destacando as suas estratégias para escapar à pobreza e oferecer um futuro melhor aos seus filhos, num contexto de desigualdade social.

O contributo teórico inovador deste trabalho assume-se na articulação de três abordagens teóricas diferentes: estudos sobre igualdade, abordagem contextualista e disposicionalista de Lahire, e teorias da intersecionalidade, de modo a registar os percursos singulares destas mulheres, fazendo interseções entre o género, a maternidade, o estatuto socioeconómico e a ‘raça’, de acordo com as dimensões da igualdade de condição, definidas por Baker e Lynch: redistribuição, relacional, educação, representação, e respeito e reconhecimento.

Neste âmbito, foram elaborados sete retratos sociológicos, baseados em sessenta entrevistas em profundidade, com vinte mulheres do Norte de Portugal. Foram ainda estabelecidos contactos com organizações públicas e privadas e realizadas dez entrevistas exploratórias, com dezassete informantes chave (profissionais de educação e ação social que trabalham com beneficiárias/os do Rendimento Social de Inserção). Para a interpretação dos retratos sociológicos, os percursos das mulheres foram divididos em percursos esperados e inesperados (singulares).

Para além de uma evidente reprodução intergeracional da pobreza, caracterizada pela falta de recursos económicos, a exclusão social das participantes mostrou estar profundamente relacionada com desigualdades afetivas, tais como a negligência e a violência na infância, e a violência doméstica nas famílias constituídas, com implicações a nível emocional, económico, educativo e de saúde.

Contudo, apesar da desigualdade, as mulheres pobres mostraram ter estratégias para lidar com os constrangimentos das suas vidas. A maioria das entrevistadas tinha definido uma estratégia de mobilidade social ascendente, especialmente relacionada com o futuro dos filhos, estando a sua agência fortemente relacionada com o cuidado e a priorização das necessidades daqueles.

Esta investigação revelou ainda que o valor do rendimento social de inserção é claramente insuficiente para as necessidades das famílias. De facto, este apoio permite apenas níveis de sobrevivência, mantendo as mulheres entrevistadas num estado de dependência, contrariando os objetivos de ‘autonomia’ delineados na origem daquela política social.

O estudo apresenta sugestões para o desenvolvimento de políticas nas áreas de justiça social tais como a educação, o emprego, o apoio social, o cuidar, a habitação e a saúde. Em suma, a perspetiva desta investigação destaca que a capacidade de planear, a motivação e a possibilidade de ‘autonomia’ dependem em grande medida de condições socioeconómicas e afetivas.



RESUMÉ

Au cours des dernières décennies, les perceptions sur l’assistance sociale ont changé et les bénéficiaires ont été accusés par les médias, les politiciens, et par l'opinion publique en général, de dépendance, de paresse et même de fraude. Les politiques sociales actives, sont été créées pour renforcer la responsabilité individuelle et ‘l'autonomie’ des bénéficiaires. Cette thèse a tenté de remettre en cause certains stéréotypes spécifiquement liés aux femmes pauvres, montrant les singularités de leurs parcours, mettant en évidence leurs stratégies pour échapper à la pauvreté et offrir un meilleur avenir à leurs enfants dans un contexte d'inégalité.

La contribution théorique distincte de ce travail est l'articulation de trois approches théoriques différentes, les études d'égalité, l'approche contextualiste et dispositionnelle de Lahire et l'intersectionnalité, afin de capturer les chemins singuliers de ces femmes, croisant le genre, la maternité, le statut socioéconomique et la ‘race’., selon les dimensions de Baker et Lynch sur l’égalité de condition, redistribution, relationnel, éducation, représentation, respect et reconnaissance.

Par conséquent, sept portraits sociologiques ont été créés, à partir de soixante entretiens approfondis, avec vingt femmes du nord du Portugal. En outre, des contacts ont été établis avec des organisations publiques et privées et dix entretiens exploratoires ont été réalisés avec dix-sept informateurs-clés (professionnels de l'éducation et de l’assistance sociale qui travaillant avec des bénéficiaires du Revenu de Solidarité Active - RSA). Pour l'interprétation des portraits sociologiques, les trajectoires sociales des femmes étaient divisées entre attendues et inattendues (singulières).

Outre une reproduction intergénérationnelle claire de la pauvreté, caractérisée par la privation de ressources économiques, l'exclusion sociale des participantes était profondément liée aux inégalités affectives, telles que la négligence et la violence à l’enfance et la violence domestique à l'âge adulte, avec des implications émotionnelles, de santé, économiques et pédagogiques.

Cependant, malgré l'inégalité, les femmes pauvres avaient des stratégies pour faire face aux contraintes de leur vie. La plupart des femmes interviewées avaient une stratégie définie envers une mobilité sociale ascendante, en particulier concernant l'avenir de leurs enfants et leur action était donc fortement liée à la prise en charge des enfants et à la priorisation de leurs besoins.

Notre recherche a révélé que la valeur du RSA est clairement insuffisante pour satisfaire les besoins des familles. En fait, cela permet une simple survivance, en maintenant les femmes interviewées dans un état de dépendance vis-à-vis l’assistance, au contraire des objectifs d’autonomie pour lesquels il a été conçu.

L'étude offre des suggestions pour l'élaboration de politiques dans les domaines de la justice sociale, tels que l'éducation, le travail, le bien-être, le logement et la santé. En résumé, la perspective de cette recherche souligne que la capacité à planifier, la motivation et la possibilité d’être 'autonome’ dépendent largement des conditions socio-économiques et affectives.


ABSTRACT

In the last decades, perceptions about welfare have changed and recipients have been accused by mass media, politicians, and by public opinion in general, of dependency, laziness and even fraud. This perception was also on the basis of active social policies, created to reinforce individual responsibility and ‘autonomy’. This thesis has tried to challenge some of the stereotypes specifically related to poor women, showing the idiosyncrasies of their paths, highlighting their strategies to try cope with poverty and to offer a better future for their children within a context of inequality.

The distinct theoretical contribution of this work is the articulation of three different theoretical approaches, equality studies, Lahire’s contextualist and dispositionalist approach and intersectionality, in order to capture these women’s idiosyncratic paths, intersecting gender, motherhood, socioeconomic status and ‘race’ at different levels, according to Baker and Lynch’s dimensions of equality of condition, redistribution, relationality, education, representation and respect and recognition.

Consequently, seven sociological portraits were created, based on sixty in-depth interviews, with twenty women from northern Portugal. In addition, contacts were established with public and private organisations and ten exploratory interviews were held with seventeen key informants (social and education professionals who work with ISA recipients). For the sociological portraits’ interpretation, women’s social paths were divided between expected and unexpected (idiosyncratic).

Besides a clear intergenerational reproduction of poverty, characterised by the lack of economic resources, participants’ social exclusion was deeply connected with affective inequalities, such as abuse and neglect in early childhood and domestic violence in adulthood, which have had emotional, health, economic and educational implications.

However, despite inequality, poor women had strategies to deal with their lives’ constraints. Most interviewed women had a defined strategy for upward social mobility, especially concerning their children’s future and their agency was thus strongly related to children’s care and the prioritization of their needs.

Our research revealed that the income support allowance’s value is clearly insufficient for the families’ needs. In fact, it enables mere survival, keeping the interviewed women in a state of dependency towards welfare, conflicting with the objectives of ‘autonomy’ for which they were designed.

The study offers suggestive evidence for policy development in the areas of social justice, such as care, education, work, welfare, housing and health. In sum, this research’s perspective highlights that the ability to make plans, the motivation and the possibility of ‘autonomy’ are largely dependent on socioeconomic and affective conditions.

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